O jornal britânico The Economist publicou um duro artigo sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta sexta-feira (28). O texto afirma que o chefe do Executivo está “sob cerco” e que apela para o “clientelismo” e à “velha política” enquanto sua popularidade derrete.
A publicação lembrou que durante a campanha de 2018, Bolsonaro usou termos muito piores que “toma lá, da cá” e “troca de favores” para insultar seus adversários. O primeiro sinal de que Bolsonaro havia desistido da chamada “nova política”, afirma o jornal, foi quando ele se aliou ao Centrão, que tem como única meta garantir seus próprios interesses.
A mais recente prova desse alinhamento foi a revelação pelo jornal O Estado de São Paulo do escândalo do “tratoraço”. Em 2020, o governo distribuiu mais de R$ 20 bilhões por meio de emendas de relator no chamado “orçamento secreto” e compras de tratores superfaturados.
“O escândalo, que a imprensa chamou de “tratoraço”, é a mais evidente prova até agora da participação de Bolsonaro na política clientelista.
CPI da Pandemia
“A situação se desdobra juntamente com um desastre de relações públicas ainda maior: uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga como o governo lidou com a pandemia. As duas crises demonstram como Bolsonaro tem se enfraquecido cada vez mais e como o Congresso, conhecido pelo oportunismo endêmico, usou essa vulnerabilidade do presidente para se fortalecer. ‘Quanto mais frágil o presidente, mais ele tem de pagar por esse apoio”, explica Sylvio Costa, do site de notícias Congresso em Foco‘”, escreve o jornal.
The Economist vê umas piores crises do mundo
O The Economist ressalta que o Brasil vive uma das piores crises de Covid-19 do mundo. Pela média diária de mortes, país não demora a chegar aos 460 mil óbitos.
“Sua estratégia de minimizar a pandemia pareceu funcionar em 2020, quando um terço dos brasileiros recebeu auxílio emergencial. Mas, este ano, a segunda onda da doença coincidiu com uma alta na inflação, a lentidão na vacinação e uma redução nos benefícios oferecidos pelo governo. A aprovação de Bolsonaro caiu de 40% para menos de 30%. O presidente da Câmara, Arthur Lira, única pessoa que pode abrir um processo de impeachment, fez um alerta falando em ‘amargos remédios políticos’”, diz trecho da publicação.
A audiência da CPI da Pandemia no Senado aumentou a impopularidade do presidente “criando uma macabra história oral do desastre brasileiro na pandemia”, de acordo com o jornal que faz um breve resumo sobre os depoimentos dos três ex-ministros da Saúde de Bolsonaro: Luiz Henrique Mandeta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello, “general que também estava no comando quando acabou o suprimento de oxigênio em Manaus, tentou fugir do depoimento alegando suspeita de estar com covid.”
De mal a pior
O artigo traz uma avaliação do líder da Oposição, deputado Alessandro Molon, que observa que “Bolsonaro está se tornando prisioneiro da própria impopularidade”. Cita ainda a queda de popularidade entre os segmentos que o ajudaram a se eleger, como os evangélicos. E o provável embate com o ex-presidente Lula nas eleições de 2022.
“Uma pesquisa de intenção de voto indica que, caso o segundo turno fosse realizado já, 55% dos votos ficaria com ele, enquanto Bolsonaro receberia 32% (o restante do eleitorado disse que não votaria em nenhum dos dois). Quando os brasileiros veem europeus e americanos sendo vacinados, percebem que “nosso presidente é uma caricatura”, diz Ciro Gomes, que também quer se candidatar”, diz o artigo que encerra com uma análise emblemática de Rebeca Lucena, da consultoria BMJ. “O Centrão não é leal. Se o navio estiver afundando, eles vão mudar de barco”.