Uma reportagem publicada neste domingo (31) pelo jornal The Guardian destacou o crescimento do “Estamos Juntos’, movimento criado com o intuito de proteger a democracia brasileira, em meio ao crescente autoritarismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao avanço da pandemia do coronavírus no país.
No texto, o britânico afirma que a frente está buscando unir representantes da esquerda e da direita brasileira em prol da democracia e alerta que embora pesquisas apontem apoio de 30% do eleitorado ao mandatário brasileiro, “esse apoio só reelegerá Bolsonaro se seus oponentes permanecerem divididos”.
Avanço da pandemia
Ainda de acordo com o jornal, a iniciativa foi lançada no último sábado, dia em que o Brasil ultrapassou a França em número de mortos pela covid-19 e se tornou o quarto país do mundo no ranking de óbitos, com 29 mil falecimentos pela doença. Com cerca de mil mortes diárias, o texto reforça que a maior economia da América Latina está se consolidando como um dos principais focos da pandemia.
O Guardian reforça que embora a situação esteja se agravando, o presidente brasileiro continua a desprezar o distanciamento social e até o momento não nomeou um ministro permanente da saúde depois de dois nomes passarem pela pasta. “No domingo, ele desfilou pela capital, Brasília, a cavalo e sem máscara durante um protesto antidemocracia promovido por devotos da linha-dura”.
“O populista de direita aumentou ainda mais as tensões participando de uma sucessão de protestos antidemocráticos, nos quais manifestantes pediam o fechamento ou o incêndio do Congresso e da Suprema Corte”.
Flávio Dino
A matéria ainda cita o apoio dado por importantes nomes da esquerda ao Movimento, como o do deputado federal Marcelo Freixo e do governador do Maranhão, Flávio Dino. “’A escolha é entre democracia e barbárie. É o futuro do nosso país’, twittou Marcelo Freixo, um congressista de esquerda, ao endossar a criação do movimento ao lado de nomes de representantes da academia, cultura e política brasileiras”, diz um trecho.
“Flávio Dino, outro proeminente esquerdista que também se juntou ao movimento, disse que a democracia do Brasil está em risco se os milhões de oponentes de Bolsonaro não conseguirem se unir. ‘Bolsonaro às vezes aparece como uma caricatura, algo cômico. Mas ele é perigoso – ele e os seguidores dessa seita de extrema direita fanática são perigosos’”, cita adiante.
“Lobão, um astro do rock de direita, disse que se revoltou com o ‘fiasco genocida’ da resposta de Bolsonaro ao coronavírus. ‘Não podemos permitir que essa zombaria e essa negligência absoluta em relação à saúde pública continuem’, disse o músico, que votou em Bolsonaro em 2018 antes de se arrepender de sua escolha”, aponta outro trecho do texto.
Defesa da vida
O jornal diz também que “o manifesto – que incentiva brasileiros a se mobilizarem em defesa da “vida, liberdade e democracia” – recebeu apoio de religiosos, refletindo a crescente revolta anti-Bolsonaro”.
“Seus mais de 100 mil signatários incluem o ex-presidente de centro-direita, Fernando Henrique Cardoso, Felipe Neto, uma celebridade do YouTube com 38 milhões de seguidores, e alguns dos principais atores do Brasil, incluindo Fernanda Montenegro, Taís Araújo e Lazaro Ramos”
‘Momento de ruptura’
Recordando os mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal na casa de aliados do presidente, o jornal sublinha os tipos de mensagens que Bolsonaro tem enviado ao país.
“Na semana passada, depois que a polícia invadiu as casas e escritórios de vários dos principais apoiadores de Bolsonaro, o presidente apareceu do lado de fora de sua residência com uma gravata decorada com imagens de fuzis. “Acabou”, berrou Bolsonaro. Seu filho político, Eduardo, alertou que o Brasil estava se aproximando “de um momento de ruptura”
Próximas eleições
“Dino, o governador do Maranhão, conclamou a esquerda, a direita e o centro a unirem forças para garantir a sobrevivência da democracia” até as próximas eleições, em 2022.
“Não permitiremos que esse cenário de horrores se repita. Esse extremismo será derrotado em 2022 ”, prometeu Dino. “Mas nosso desafio é o tempo que ainda resta – e é isso que mais me preocupa. Se houver eleições livres, não há dúvida de que o extremismo bolsonarista perderá”.