
A união da esquerda na França mudou o panorama político do país e quebrou uma tradição histórica: pela primeira vez um presidente eleito – ou reeleito, no caso de Emmanuel Macron -, não consegue formar maioria no parlamento.
A votação em segundo turno foi concluída neste domingo (19) e a coligação “Ensemble!” (“Juntos!”) de Macron conseguiu 245 das 577 cadeiras na Assembleia Nacional. Para chegar a maioria absoluta seriam necessários 289 parlamentares eleitos. O mandato dos parlamentares eleitos começa nesta quarta-feira (22).
Cenário bem diferente de quando Macron se elegeu em 2017 e não teve maiores dificuldades para conseguir a maioria absoluta de 308 deputados, mesmo sem o próprio partido de Macron ter conseguido eleger nenhum deputado.
Liderada por Jean-Luc Mélenchon, a Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), que uniu os partidos França Insubmissa, Socialista, Ecologista e Comunista, se tornou uma das principais forças de oposição no país. Ficou em segundo lugar com seus 131 parlamentares.
Diante do salto de 80 para 131 representantes, Mélenchon declarou após o resultado que a “derrota do partido presidencial é total”.
O quadro que se desenha para Macron é de dificuldade para governar.
“A situação representa um risco para o país, dados os riscos que já temos enfrentado nacional e internacionalmente. Vamos trabalhar a partir de amanhã para construir uma maioria”, afirmou a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, que também era candidata e conseguiu se eleger.
Cezar Xavier, da Fundação Grabois, observa que na França “as forças políticas se impõem gradualmente, ao longo das eleições, como foi o caso da extrema-direita de Le Pen. Por isso, a união da esquerda tem um significado de longo prazo para o cenário político”.
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Ultradireita também cresceu
Do outro lado da correlação de forças, está o temeroso crescimento da extrema-direita capitaneada por Marine Le Pen, que disputou o segundo turno das eleições presidenciais com Macron.
O Rassemblement Nacional (Reagrupamento Nacional), de Le Pen, ficou em terceiro lugar em eleitos para o parlamento com um crescimento vertiginoso. Passou de 7 para 89 representantes neste domingo.
“É um tsunami”, resumiu o presidente do partido, Jordan Bardella.
Além da força dos votos, o número dará mais estrutura à ultradireita que poderá formar seu grupo no parlamento e ter mais recursos, tempo para discursar e, principalmente, o direito de apresentar projetos de lei.
“Esse grupo será de longe o mais numeroso da história da nossa família política. Nós atingimos nosso objetivo: tornar o presidente Macron minoritário, sem controle do poder”, bradou Le Pen.
Uma das primeiras batalhas de Macron com o parlamento pode ser a reforma das aposentadorias com aumento da idade mínima para se aposentar, dos atuais 62 anos para 64 ou 65 anos.
Com informações do RFI