Shi Zhengli é uma importante virologista chinesa, diretora do Centro de Doenças Infecciosas Emergentes do Instituto de Virologia de Wuhan e reconhecida no país pelos esforços na contenção da pandemia. Porém, também é vítima de teorias da conspiração e para alguns políticos e cientistas estadunidenses, Shi é peça fundamental para saber se o novo coronavírus escapou de um laboratório.
Em maio, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ordenou que agências de inteligência investigassem a origem do novo coronavírus, incluindo a teoria de vazamento de laboratório. O antecessor de Biden, Donald Trump, foi um dos principais responsáveis por levantar a hipótese, porém foi amplamente rejeitada. O G7 – grupo dos sete países mais ricos do mundo – insistiu para a China fazer parte das investigações que tentam descobrir a origem do vírus.
Alguns relatos do meio científico afirmam que Shi conduziu experimentos arriscados com coronavírus de morcegos em laboratório. De acordo com o The New York Times, em 2017, Shi e colegas do laboratório publicaram um relatório sobre um experimento.
“Criaram novos coronavírus de morcegos híbridos ao misturar e combinar partes de vários existentes – incluindo pelo menos um que era quase transmissível para humanos – para estudar sua capacidade de infectar e se replicar em células humanas”, relata a matéria do jornal.
Em um e-mail que acompanha o artigo, a virologista diz que tentava entender como o vírus poderia pular de uma espécie para outra e não criar um vírus mais perigoso.
“Meu laboratório nunca conduziu ou cooperou na realização de experimentos de ganho de função que aumentam a virulência dos vírus.”
Shi Zhengli
Entrevista com virologista Shi Zengli
Em uma rara entrevista por e-mail, já que as políticas do instituto não permitem que se fale diretamente com jornalistas, Shi negou as acusações e defendeu a reputação do laboratório e da China. “Como posso fornecer evidências de algo que não tem evidências?”, afirmou a virologista.
Shi disse que são infundadas as suspeitas que vários dos colegas poderiam ter adoecidos antes dos primeiros casos relatados. A cientista afirma enfaticamente que o laboratório não tinha nenhuma fonte do novo coronavírus antes de começar a pandemia.
“Não sei como o mundo chegou a isso, despejando imundície constantemente sobre uma cientista inocente.”
Shi Zhengli
Em relação às amostras no laboratório, Shi afirma que publicou que o vírus do morcego mais próximo ao novo coronavírus era 96% idêntico, que segundo ela é uma grande diferença para padrões genômicos. Ainda negou que trabalhavam secretamente com outro vírus.
“Tenho certeza de que não fiz nada de errado. Portanto, não tenho nada a temer.”
Shi Zhengli
Carreira de Shi Zengli
A virologista chinesa tem 57 anos e obteve o doutorado na Universidade de Montpellier, em 2000, na França. Começou estudar morcegos em 2004 e em 2011 descobriu morcegos em uma caverna no sudoeste da China que carregavam coronavírus semelhante ao vírus que causa a Síndrome Respiratória Aguda (SARS).
Em 2020 apareceu na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time. Em 2019 estava na lista de 109 cientistas eleitos para a Academia Americana de Microbiologia. A cientista liderou as expedições a cavernas para coletar amostras de morcegos e guanos, para aprender como o vírus sai dos animais e vai para os humanos.
Robert C. Gallo, diretor do Instituto de Virologia Humana da Escola de Medicina da Universidade de Maryland. Diz que Shi é uma cientista estelar, extremamente cuidadosa e com uma ética de trabalho rigorosa.
Shi alertou sobre o risco de um possível surto de coronavírus e publicou um dos primeiros artigos mais importantes sobre o vírus que causa a Covid-19.
Com informações do O Globo