
Depois dos britânicos The Guardian e The Economist, esta semana foi a vez do jornal de maior circulação na capital americana, The Washington Post, afirmar, em seu editorial, que Jair Bolsonaro é o pior líder do mundo no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.
Publicado nessa terça-feira (14) “Os líderes arriscam vidas minimizando o coronavírus. Bolsonaro é o pior”, o jornal afirma que o novo vírus, responsável pela infecção de pelo menos 1,8 milhão de pessoas em 185 países, tornou-se um teste global da qualidade da governança no mundo pelo fato da gravidade do surto, em muitas nações, ter dependido de quão bem – ou mal – os governantes responderam à Covid-19.
Improbidade
Citando os casos da Nova Zelândia, Taiwan, Coreia do Sul e Alemanha, que conseguiram reduzir bastante o número de infectados e de mortes por meio de testes e rastreamento de contatos dos infectados, o editorial diz ser visível que os governantes da Bielorrússia, Turquemenistão, Nicarágua e Brasil rejeitaram a seriedade do vírus, mas que, de longe, o caso mais grave de improbidade é o do presidente brasileiro.
Segundo o texto, “quando as infecções começaram a se espalhar em um país de mais de 200 milhões de pessoas, o populista de extrema-direita minimizou o coronavírus”, afirmando ser uma ‘gripezinha’, e incentivou brasileiros a “enfrentarem o vírus como um homem, caramba, não um menino”.
Diz ainda que, “para piorar, o presidente tentou, repetidamente, minar as medidas tomadas pelos 27 governadores estaduais do país para conter o surto”.
“O Brasil não pode parar“
O editorial segue listando que Bolsonaro primeiro emitiu um decreto retirando dos estados o poder de restringir o movimento. “Em seguida, ele tentou isentar igrejas e casas lotéricas de restrições”. “Felizmente, nos dois casos, a decisão foi anulada pelos tribunais responsáveis”.
Afirma também que ao prosseguir com a campanha contra o distanciamento social, outra ordem judicial foi necessária para interromper uma campanha publicitária lançada com o slogan, que em inglês, se traduz como “#BrazilCannotStop” [O Brasil não pode parar].
Outro trecho do texto diz que governadores e o próprio ministro da Saúde alertaram a população a desconsiderar a opinião do presidente e que manifestantes em várias cidades do país estão batendo “panelas e frigideiras” em protesto.
O Washington Post aponta que 76% das pessoas aprovam o tratamento dado à crise pelo ministro da Saúde, em comparação com 33% que apoiam o Bolsonaro, e que, mesmo assim, o presidente está causando um “efeito sinistro”. “Em São Paulo, a maior cidade do país e o epicentro de epidemia, o rastreamento de celulares mostrou que apenas 50% de seus quase 13 milhões de habitantes permaneceram em casa no domingo de Páscoa”, diz.
Número de mortes
“O resultado previsível tem sido uma taxa crescente de doenças e mortes” complementa.
O diário americano alerta que na segunda-feira, o Brasil ocupava a 14ª posição no mundo em número de casos, com mais de 22 mil identificados, e a 11ª posição no ranking de mortes, com 1.245 óbitos, segundo o site de rastreamento da Universidade Johns Hopkins.
“Epidemiologistas estão prevendo que o pico de infecções e mortes ainda está por vir, graças à frouxidão no distanciamento social incentivada por Bolsonaro”. Citando o britânico The Guardian, o jornal americano reitera que os serviços de saúde deverão ficar sobrecarregados em três ou quatro semanas.
Trump
A crítica é encerrada com uma menção aos Estados Unidos. “Embora os Estados Unidos dificilmente tenham tido um líder mundial capaz de conter o vírus”, o país teve um desempenho melhor desde que o presidente Trump voltou atrás em sua fala minimizadora no mês passado e apoiou os esforços de contenção recomendados pelos profissionais de saúde. “Ele [Trump] poderia fazer um grande favor ao Brasil telefonando para Bolsonaro, que tem sido um aliado político, insistindo a fazer o mesmo”, conclui.