No cenário de pandemia as mulheres negras conseguem manter o negócio por mais um mês apenas, diz estudo.
Na maioria das vezes responsáveis pelo sustento da família, as mulheres negras que têm o próprio negócio estão sofrendo ainda mais com os efeitos da crise do covid-19. Pesquisa aponta que 48% delas precisam de auxílio financeiro para manter o negócio ativo.
O apontamento é do relatório “Saúde financeira das mulheres negras em tempos de Covid-19”, feito pelo Instituto Identidades do Brasil, Comunidade Empodera, EmpregueAfro e Faculdade Zumbi dos Palmares. A pesquisa foi divulgada no dia 9/04 no site do instituto.
Hoje, 17,10% dessas empreendedoras atuam no ramo da moda, seguido pelo da beleza, com 10,90%, diz o levantamento realizado em 19 estados e Distrito Federal.
Pandemia e empreendedoras negras
Com o avanço da doença e a necessidade de isolamento, os pequenos negócios estão ameaçados.
Na pesquisa, 44% das empreendedoras declararam que conseguem manter o negócio por apenas mais um mês com o dinheiro que têm em caixa; 10,3% conseguem se manter por dois meses; 5,1% por três meses e apenas 4% conseguem sobreviver entre quatro e seis meses. 33,7% não souberam informar.
Nessas circunstâncias é difícil manter uma atividade própria e o apoio governamental é fundamental para proteger também o trabalho autônomo. Porém, 56% das entrevistadas disseram ter custo mensal médio entre 1 mil a 5 mil reais, orçamento superior à ajuda oferecida pelo governo, de R$600.
Ainda entre as empreendedoras negras, 79,4% não dispõem de reservas financeiras para manter seu negócio diante do atual cenário econômico gerado pelo covid-19, enquanto 48% dizem que a principal necessidade é garantir recursos para manter o negócio ativo.
Desigualdades reiteradas
As entidades envolvidas com o levantamento reiteram a situação de desigualdades a que estão submetidas as mulheres negras, como subempregos, e avaliam ser necessário pensar uma sustentabilidade econômica para elas durante e pós-pandemia.
“Eu mesma estava empregada até dia 23 de março. Por estar pouco tempo na empresa e ser de um grupo de risco, fui demitida, assim como eu, tantos outros também foram. O amanhã não sei como será e tudo isso é muito angustiante”, disse uma das entrevistadas para a pesquisa, que teve a identidade preservada.
Outro alerta dado pelos realizadores do estudo é de que o colapso nas carreiras e empreendimentos das mulheres negras podem gerar também o colapso de diversos setores. Isso, segundo eles, se deve ao fato de o segmento movimentar, sozinho, em torno de R$704 bi por ano, no Brasil (Instituto Locomotiva, 2019).
Dados
A coleta de dados foi realizada entre os dias 31 de março e 2 de abril, 20 dias depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o estágio de pandemia da doença, em 11 de março.
Confira íntegra do estudo AQUI.
Os integrantes da coalizão justificam e preocupação com o segmento também com base em estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2018, segundo o qual, a vulnerabilidade das mulheres negras ao desemprego é 50% maior do que a de mulheres não negras
De acordo com o IBGE, no Brasil há 60 milhões de mulheres negras, o que representa 28% da população.
Com informações da Agência Brasil