POR DOMINGOS LEONELLI
A esquerda da Bahia, principalmente o PT, PSB e PC do B, tem a obrigação de realizar uma reflexão autocrítica em relação à política de segurança pública dos nossos governos de 2015 a 2022. Não se trata de “mea culpa” ou de responsabilização exclusiva do ex-governador Rui Costa. Em diferentes graus, todos temos responsabilidade sobre os vergonhosos números de violência e letalidade policial que elevaram de 354 em 2015 para 1464 o número de mortos pela Polícia em nosso estado.
Os maiores partidos de esquerda, comprometidos com os Direitos Humanos, com a defesa da juventude negra e com o combate ao chamado racismo estrutural, não levantaram suas vozes com a força necessária, de forma oficial e clara, contra essa letalidade policial tão cruel quanto ineficiente para combater a criminalidade e a violência na Bahia. Prevaleceu a força da conveniência política sobre os princípios, como se o fato de participarmos de um governo com cargos e emprego nos dispensasse de nossos compromissos ideológicos.
É verdade que no episódio do Cabula, quando 19 jovens foram chacinados e o então governador Rui Costa fez a infeliz comparação dos policiais a “artilheiros diante do gol”, ouviram-se vozes isoladas de parlamentares e quadros partidários. Mas não houve uma condenação formal, uma exigência efetiva, um movimento real dos principais partidos de esquerda contra a orientação da política pública de segurança seguida pelo Governo do PT com a participação do PSB e do PC do B.
Sei perfeitamente que a segurança pública não é somente um “caso de polícia”. O emprego, o amparo social e, principalmente, a educação, são fatores absolutamente essenciais. Mas as polícias também desempenham um papel fundamental, principalmente junto às camadas mais pobres da população. O primeiro, o segundo e o terceiro compromisso de qualquer policial deveria ser a defesa da vida. Da vida humana, seja ela do mais exemplar cidadão, do próprio policial, ao mais abjeto dos bandidos.
E a violência, especialmente a letal, só pode ser exercida em defesa da vida. De terceiros ou da sua própria. Para isso, eles têm seus salários, suas fardas, seus estudos e preparação e suas armas, pagas pelo povo trabalhador, de onde vêm os impostos. Mas se nenhum desses argumentos sensibilizar governantes e policiais, vamos ao mais simples pragmatismo: a política de morte é inútil para o combate à criminalidade. E os números do crescimento da violência na Bahia comprovam isso.
Acredito que, além do reconhecimento de nossa responsabilidade, faz parte de uma verdadeira autocritica a exigência e a pressão desses partidos junto ao governador Jeronimo Rodrigues por uma nova orientação para a Segurança Pública na Bahia.