
Alvo de um dos inquéritos policiais aberto em abril pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar quem organizou e financiou manifestações contra a democracia, o técnico de informática e youtuber Anderson Rossi, dono do canal Foco do Brasil, afirmou que o acesso a áreas restritas do Palácio da Alvorada se deve à “simpatia” do presidente Jair Bolsonaro por sua equipe. Também se disse cauteloso na hora de fazer perguntas.
No Youtube, o canal de Rossi, que se declara apoiador de Bolsonaro, faturou US$ 330 mil em monetização – o equivalente a R$ 1,76 milhão na cotação atual de câmbio -, entre março de 2019 e maio deste ano, segundo relatório da Polícia Federal.
Rede do ódio
O jornal Estadão afirma que teve acesso ao inquérito sigiloso e desde sexta-feira tem revelado, em uma série de reportagens, o resultado das diligências da Polícia Federal. Os investigadores já sabem, por exemplo, que essa rede do ódio ganhou muito dinheiro divulgando discursos inflamados de Bolsonaro e a defesa de atos antidemocráticos, que levaram centenas de pessoas às ruas, no primeiro semestre.
As manifestações pediam o fechamento do Congresso, do Supremo e até intervenção militar no País.
Faturamento milionário
O faturamento desses canais, no período que coincidiu com os protestos, ultrapassou mais de R$ 100 mil por mês para alguns blogueiros, segundo informações que constam no inquérito. Os produtores são remunerados pelo Youtube, com base na visualização dos vídeos que postam, e os pagamentos são sempre feitos em dólar.
O conteúdo divulgado nos canais da rede do ódio, de acordo com as investigações em curso, é repassado por assessores de Bolsonaro. Em depoimentos à PF, esses auxiliares admitiram fazer reuniões com os blogueiros para discutir “questões do governo”, conferindo a eles acesso direto ao presidente. A PF suspeita que o faturamento com a monetização seja rachado ou que os youtuber atuem como “laranjas”.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, foi citado 43 vezes no inquérito. Carlos comanda o núcleo de assessores do Palácio do Planalto conhecido como “gabinete do ódio“, que adota um estilo beligerante nas redes sociais e dispara ataques contra adversários do governo. Apelidado de “Carluxo” ou “02”, o vereador prestou depoimento na Superintendência da PF no Rio, em 10 de setembro. Disse que nunca utilizou verba pública para manter canais e perfis em redes sociais. Não foi só: afirmou que não é “covarde” nem “canalha” para contratar “robôs”.
Rossi: “Simplesmente entramos e nunca fomos bloqueados”
Para o Estadão, o youtuber revelou como tem acesso exclusivo ao presidente e às dependências do Palácio da Alvorada.
“Simplesmente entramos e nunca fomos bloqueados. Inclusive, como todos sabem, também somos apoiadores. Ali é local de apoiadores”, argumentou Rossi, referindo-se ao espaço, uma espécie de cercadinho, em que a militância bolsonarista costuma aguardar o presidente. “Nós gravamos com o celular”.
Rossi disse que seus funcionários se identificam aos seguranças e, em seguida, seguem para áreas internas do Alvorada, onde Bolsonaro conversa com seus seguidores, longe do espaço reservado à imprensa tradicional.
Com informações do Estadão