Em entrevista divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo no fim da quarta-feira (3), o pivô da mais recente crise política do país, que alçou Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara, o presidente do DEM, ACM Neto, afirmou que não tem compromisso com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mas que não descarta nenhuma opção, incluindo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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Depois de protagonizar um racha em seu próprio partido, com o abandono da candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), escolhido por Rodrigo Maia (DEM-RJ) para sucedê-lo no comando da Casa, o ex-prefeito de Salvador afirmou que a eleição do Legislativo será página virada em breve e que isso não irá interferir nas articulações para a eleição nacional de 2022.
Lira comandará a Casa Legislativa pelos próximos dois anos, até 2023. A vitória do aliado de Bolsonaro ocorreu em meio a denúncias de compras de votos pelo Planalto, recorde de repasses de emendas parlamentares e negociações de postos de comando no governo bolsonarista.
O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto foi um dos anfitriões de Bolsonaro na visita ao Nordeste, realizada há alguns dias. Garantiu que o presidente teria votos no DEM-BA.
Abandono e mágoa de Maia
Criticado por ter abandonado Maia no pleito, ele nega que seu partido tenha se movido por cargos e emendas e diz ser falsa qualquer informação a respeito de negociações com o presidente da República ou que tenha a ver com 2022. “Tudo isso é falso. Não somos oposição e não temos intenção de aderir à base do governo”, disse à Folha.
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Questionado sobre os comentários acerca da suposta incompetência de Maia para articular sua base, ele também disse preferir não fazer comentários públicos a respeito do deputado Rodrigo. “Ele teve papel fundamental para o Brasil. Não é o resultado dessa eleição que pode mensurar a importância de Rodrigo”.
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Ainda em entrevista ao jornal, ACM Neto diz permaneceu “até a última hora” ao lado de Baleia Rossi e que “desejava que a bancada tivesse maioria para aderir ao bloco”, mas que não é “dono do partido e não posso me sobrepor à vontade da maioria”.
DEM, o “partido da boquinha”
Sobre a polêmica declaração de Rodrigo Maia, de que o DEM corria o risco de ser chamado de “partido da boquinha”, ele voltou a desconversar. “Rodrigo sabe que eu jamais admiti negociar qualquer tipo de cargo para integrar o governo. Não quero indicar nem um porteiro para o governo. Esse tipo de especulação se dissipa rapidamente com os fatos”.
A respeito das liberações recordes de emendas do governo para favorecer Lira e das negociatas envolvendo cargos, uma delas supostamente prometida a ele, Neto diz que este não foi o fator decisivo para o resultado nas eleições da Câmara. “Não foi nem cargo nem emenda. Vários fatores colaboraram para esse quadro. E o que explica o processo é a soma desses fatores”.
De olho em 2022, com Bolsonaro na mira
Sobre uma possível aliança com Luciano Huck, que vem articulando nos bastidores sua candidatura, ele diz que o partido nunca discutiu “partidariamente o ingresso de Luciano. “Tenho relação com ele muito próxima, é um grande quadro da vida pública. Mas quem tem visão crítica da política sabe que esse foi um processo apenas do Legislativo. Se essa conversa um dia tiver que acontecer, não acho que o processo tenha qualquer interferência.”
Em relação a 2022, o presidente dos Democratas não descarta alianças.
“Nós não estaremos com os extremos. Você pergunta se eu descarto inteiramente a possibilidade de estar com Bolsonaro. Neste momento não posso fazer isso. Qual Bolsonaro vai ser? Os dos dois últimos anos que passaram? Não queremos. Agora, haverá um reposicionamento? Para a construção de algo mais amplo, que não fique limitado à direita? Não sei. Então, não posso responder agora. Portanto, seja Doria, Bolsonaro, Huck, Ciro [Gomes], [Luiz Henrique] Mandetta, qualquer um dos nomes, vamos saber com o passar do tempo se vai ter mais ou menos chance”.
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