Após o discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticando a gestão de Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento à pandemia da Covid-19, o mandatário usou máscaras e reforçou o discurso a favor das vacinas ao sancionar a lei que facilita compra de vacinas contra Covid-19 nesta quarta-feira (10).
A mudança de postura do mandatário já ocorre há algumas semanas. Nesta quarta, no entanto, ele surpreendeu até mesmo apoiadores ao defender a atuação de seu governo contra o coronavírus e, sem citar o petista, falou em “responsabilidade”.
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“Fomos e somos incansáveis no combate à pandemia de coronavírus”, disse ele, durante cerimônia no Palácio do Planalto.
O conjunto de ministros e o próprio Bolsonaro também contrariaram o hábito de não usar máscaras. Eles utilizaram o equipamento de proteção, a exemplo do que Lula tinha feito horas antes.
Como o petista, Bolsonaro só tirou a máscara para discursar. Ele seguiu com uma mudança de tom no conteúdo de suas declarações e atitudes em relação à vacina, como fez pela manhã, numa conversa com apoiadores no Alvorada. Durante a pandemia, Bolsonaro disse que não tomaria a vacina, questionou a CoronaVac e sustenta, até o momento, a não-obrigatoriedade da imunização.
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“Em junho de 2020, assinamos o primeiro acordo com a AstraZeneca”, afirmou o presidente na cerimônia, à tarde. “Agosto de 2020, dispensamos R$ 2 bilhões para que as vacinas chegassem da Fiocruz, totalizando 100 milhões de doses. Em dezembro de 2020, [assinamos] uma Medida Provisória para que fossem dispensados R$ 20 bilhões para nossa população com vacinas.”
De acordo com levantamento do G1 no site de fotos da Presidência, a última vez em que Bolsonaro usou máscara em um evento oficial foi em 3 de fevereiro, na sessão solene de abertura do ano legislativo do Congresso. Desde então, houve 36 eventos oficiais em Brasília e outras cidades — entre os quais solenidades, audiências, encontros com embaixadores e formaturas — com a participação do presidente. Em todos, ele estava sem máscara, à exceção da cerimônia desta quarta.
O presidente mencionou sua própria mãe, que foi vacinada com duas doses de CoronaVac, mas sem entrar em polêmicas sobre a “paternidade política” do imunizante, disputada com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). “Vacinamos 100% dos idosos acima de 85 anos, entre eles a minha mãe. Até o final do ano, teremos mais de 400 milhões de doses disponíveis aos brasileiros.”
Mudança de tom ‘pós-Lula‘
O presidente não citou o nome Lula no discurso. Mas seu entorno reforçou o discurso da importância dos imunizantes contra o coronavírus depois da crítica do petista. O senador e primogênito do presidente, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), publicou mensagem que disse: “Nossa arma é a vacina”.
Um dos poucos a mencionar Lula, foi o assessor de Bolsonaro, Tércio Arnaud, que afirmou que gostaria de uma verificação sobre as “centenas de mentiras” do petista.
Bolsonaro ainda disse que o auxílio emergencial, que pagou parcelas de R$ 300 e R$ 600 para a população no ano passado, foi “o maior programa social do mundo”. “Atendemos aqueles conhecidos como invisíveis, cujo número ultrapassou 60 milhões de beneficiários. Não se tem notícia de um projeto social de tamanha envergadura.”
O presidente mencionou o confinamento, mas, desta vez, sem criticá-lo. “A política de lockdown, o isolamento, o confinamento, visava tão somente dar tempo para que hospitais fossem aparelhados com leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Ninguém, nenhum prefeito ou governador, reclamou de falta de recursos para que tivesse hospitais, leitos de UTI e respiradores.”
Sanções de Bolsonaro
Nesta quarta, Bolsonaro sancionou uma medida provisória e dois projetos de lei aprovados pelo Congresso Nacional:
- PL 534/2021: facilita a compra de vacinas pela União, pelos governos estaduais e municipais e pela iniciativa privada.
- MP 1.026/2021: permite compra de vacinas antes de aval da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dá sete dias úteis para a agência decidir sobre a aprovação temporária de vacinas.
- PL 2.809/2020: prorroga até 31 de dezembro de 2020 a suspensão da obrigatoriedade de manutenção de metas pelos prestadores de serviço de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a Secretaria-Geral da Presidência, houve vetos em alguns trechos do projeto que permite a compra de vacinas por União, estados, municípios e iniciativa privada.
Com informações do G1 e jornal O Globo