Colocar em xeque o sistema eleitoral brasileiro e as eleições no país, sempre sem apresentar provas, voltou a ser uma manobra retórica usada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para antecipar a narrativa de uma possível derrota em 2022. As declarações nas quais questiona a confiabilidade das urnas é uma maneira do chefe do Executivo se aproximar da militância, já que sua popularidade cai dia após dia com as descobertas de indícios de corrupção.
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Uma prova de que o presidente da República vem perdendo força são os resultados das pesquisas de opinião que apontam picos de rejeição e amplo favoritismo de seu provável adversário em 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A sequência de declarações que constroem a retórica de uma eventual derrota ocorre em meio à divulgação de levantamentos eleitorais que apontam ampla vantagem do petista.
Bolsonaro é mal avaliado pelo povo brasileiro
O povo brasileiro não tem a melhor impressão do presidente. Ao contrário: para a maioria da população, Jair Bolsonaro é desonesto, falso, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário, favorece os ricos e mostra pouca inteligência. É o que mostra nova pesquisa do Datafolha divulgada nesta sexta-feira (9).
No levantamento, Bolsonaro aparece com a pior avaliação desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2019: 51% dos ouvidos o consideram ruim ou péssimo, número que vem crescendo desde dezembro. A aprovação está estável em 24% em relação ao levantamento de maio, e o índice dos que o consideram regular caiu para 24%.
Socialistas criticam governo Bolsonaro
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), rebateu a tentativa de ameaça do presidente contra as eleições de 2022 no seu Twitter.
A bandeira de honestidade da qual o presidente se gabava e que ele tentava preservar para a disputa de 2022 já não pode ser mais sustentada. A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) reagiu ao resultado da pesquisa nas redes sociais.
Ameaça às Eleições de 2022
Numa demonstração de desespero, Bolsonaro intensificou o discurso sobre as fraudes eleitorais e já antecipa que haverá irregularidades no ano que vem e que o resultado já estaria definido.
O presidente afirmou ainda que as eleições podem simplesmente não ocorrer caso não haja um sistema confiável. Segundo ele, apenas o voto impresso pode ser auditável.
De acordo com a reportagem da Folha, interlocutores afirmam que Bolsonaro se vê pressionado a reforçar os laços com sua base mais fiel e ideológica. O principal objetivo seria manter sua avaliação estável e não dar margem para o aumento de sua rejeição e, desta maneira, diminuir as chances de impeachment.
“Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma [atual], corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, ameaçou.
E a cloroquina?
O discurso incentivando o tratamento precoce e o uso da cloroquina simplesmente se esvaiu com a vacinação em massa pelo país e diante das descobertas de corrupção na compra de vacinas apuradas pela CPI da Pandemia no Senado.
Colocar em dúvida a segurança das urnas eletrônicas, sistema usado desde 1996, considerado eficiente e confiável por autoridades e especialistas no país, é tentativa de Bolsonaro de desviar a atenção da CPI e tentar angariar o apoio da militância mais radical.
Antevendo a derrota nas eleições
Em conversa com apoiadores, Bolsonaro sugeriu ainda que o resultado das eleições do ano que vem já estaria decidido. “Já está certo quem vai ser [presidente], como está aí. A gente vai deixar entregar isso?”, disse.
Além de causar pânico e incitar a dúvida na população brasileira sobre a confiabilidade das eleições, o presidente passou a investir fortemente contra o ex-presidente Lula e Renan Calheiros, relator da CPI da Covid.
“Então isso é fraude, é fraude, é roubalheira. Vocês acham que o Renan Calheiros, por exemplo, se pudesse fraudar a votação ele fraudaria pelo caráter que ele tem? A única forma de bandidos com Renan Calheiros se perpetuarem na política, entre outros que estão do lado dele, o nove dedos, é na fraude”, afirmou.
Voto impresso nas eleições
Após a união do Congresso Nacional, inclusive de partidos aliados, com ministros do Supremo Tribunal Federal contra a PEC do voto impresso, Bolsonaro passou a atacar diretamente o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso, além de outros integrantes da Suprema Corte.
Ao longo da última semana, ele destilou em diferentes ocasiões ameaças ao processo eleitoral brasileiro, além de chamar Barroso de “imbecil” e “idiota”.
“Eles vão arranjar problemas para o ano que vem. Se este método continuar aí, sem, inclusive, a contagem pública, eles vão ter problemas. Porque algum lado pode não aceitar o resultado. Este algum lado, obviamente, é o nosso lado, pode não aceitar o resultado”, disse Bolsonaro na quarta-feira (7) em entrevista à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul.
Tramita no Congresso uma proposta para implementar o voto impresso, mas a ideia conta com oposição de uma coalizão de partidos, alguns deles da própria base de Bolsonaro.
Reações de Barroso e Pacheco
Pacheco disse que “todo aquele que pretender algum retrocesso ao estado democrático de direito esteja certo que será apontado pelo povo brasileiro e pela história como inimigo da nação”. Barroso afirmou, em nota, que qualquer tentativa de impedir a realização de eleições em 2022 “configura crime de responsabilidade”.
A pesquisa somada aos números negativos para o Planalto que seguem avançando na CPI da Pandemia, que deixou para trás temas como cloroquina, gabinete paralelo e recusas de ofertas da Pfizer para focar em denúncias de corrupção envolvendo a compra de vacinas.
Todo esse imbróglio junto com o aumento dos preços dos combustíveis e a crise energética atingiram em cheio a imagem do presidente que vem ladeira abaixo junto com os escândalos de corrupção.
Com informações da Folha de S.Paulo