A aprovação do financiamento a candidaturas negras provocou a guinada de autodeclaração racial, gerando uma transracialização sem precedentes, expondo, sim, faces da racistocracia brasileira, segundo artigo da Carta Capital
Ao longo da formação institucional do Brasil a participação política dos negros nas estruturas do Estado experimentou diversas exclusões dos processos eleitorais e das possibilidades de agenciamento de interesses e políticas públicas. A reação e permanente mobilização negra para o exercício dos direitos políticos produziu um paradoxo: a cada avanço conquistado desenvolveram-se mecanismos de esvaziamento, bloqueio e cooptação.
Seguindo a agenda das elites, o Estado buscou “criar” a nação, a partir da escolha do homem branco como o protótipo do cidadão, excluindo negros e indígenas do acesso aos direitos básicos, e definiu a branquitude como perfil para o exercício do poder político, monopolizando a representação das funções do Legislativo, Executivo e Judiciário.
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A Racistocracia, como sistema político, se expressa historicamente de forma maleável e dinâmica, comportando flexibilidades e alterações morfológicas, desde que se mantenha intacto seu objetivo fundamental: o controle do Estado e dos recursos materiais e simbólicos nas mãos da minoria branca.
A reorganização dos Movimentos Negros, nos anos 70, em diversas frentes, a exemplo dos Blocos Afro em Salvador, com a fundação do Ilê Aiyê, o movimento Black Rio, a fundação da Escola de Samba Quilombo, no RJ, o Grupo Palmares, em Porto Alegre, a fundação do MNUCDR etc, gerou novo ciclo de participação política negra. Integrados à agenda de democratização que derrotou a ditadura militar, recolocaram a participação negra na política institucional como tema relevante, com agenda antirracista, possibilitando a eleição de Abdias Nascimento, na legislatura que antecedeu a Constituinte, além de diversas candidaturas à Constituinte nas eleições de 1986.
A reação da Racistocracia
Paralelamente às conquistas, as reações da Racistocracia devem ser mapeadas. Em resposta ao aumento das candidaturas negras e a afirmação de campanhas de voto racial, a elegibilidade de representações negras experimentou deslocamentos programáticos que esvaziaram as agendas antirracistas.
Negros evangélicos conservadores, sindicalistas, sem-terra e, mais recentemente, expoentes da agenda ultraconservadora do populismo penal, ocuparam os espaços de representação construídos difusamente pela militância negra nas últimas décadas, desacelerando as pautas antirracistas e o protagonismo autônomo.
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