
Coautor do livro Como as Democracias Morrem, livro mais vendido no Brasil em 2018, ano de seu lançamento, o professor de governabilidade da Universidade Harvard, Steven Levitsky, afirmou que a invasão do Congresso Americano protagonizado por apoiadores de Donald Trump na última quarta-feira (6) foi uma resposta a “quatro anos de descrédito e deslegitimação da democracia” por parte do Partido Republicano e do próprio presidente.
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Em entrevista à rede BBC News Mundo, Levitsky disse que a grande diferença entre o “autogolpe insuflado por Trump e os autogolpes na América Latina é que o republicano derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden foi completamente incapaz de obter o apoio dos militares” e “um presidente que tenta permanecer no poder ilegalmente sem o apoio dos militares tem poucas chances de sucesso”.
Segundo sua análise, “a democracia sobreviverá a este dia”, mas o que se coloca para o futuro do país é um período de crise bastante incerto.
Durante a conversa, o estudioso não demonstrou surpresa real com os acontecimentos recentes. De acordo com ele, Trump e Republicanos vinha mentindo para suas bases “que os democratas estão arruinando o país e subvertendo a democracia”.
“Depois de perder a eleição, não só Trump mas também líderes do Partido Republicano estavam lá no Congresso, repetindo a mentira e desacreditando a legitimidade da democracia e das instituições. Depois de anos mobilizando sua base com uma linguagem que incluía termos como socialismo ou traição, pode realmente surpreender que isso esteja acontecendo depois que você perdeu a eleição?”, questionou.
Semelhanças com a América Latina
Quando questionado sobre as semelhanças com a América Latina, o esboço de surpresa acontece em relação à atuação das forças de segurança. “Na história da América Latina, quando os líderes incitam seus seguidores em um ambiente altamente polarizado, as pessoas agem. Palavras têm significado, elas têm poder. O que me surpreende nisso é como a polícia estava mal preparada”, apontou.
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Em seu livro, que se tornou best-seller no Brasil, Steven Levitsky expõe “os sinais alarmantes que põem em risco a democracia liberal dos EUA”. Estudioso também dos processos democráticos e presidenciais da América Latina, ele descreveu a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump como uma “tentativa de autogolpe”.
Trump e o racha com os Republicanos
Sobre as reações de membros dos Republicanos, partido de Trump, viu que o episódio criou uma espécie de ‘racha’ entre seus representantes, o que julgou positivo.
O presidente já foi radicalmente violento antes e, se não queria que isso acontecesse, precisava agir mais rápido e se mobilizar para evitar. Ele provavelmente não deveria ter sugerido que marchassem até o Congresso. Trump os enviou para lá, ele os incitou a se mobilizarem para o Congresso. O fato de que os líderes republicanos agora estão rompendo com Trump é hipócrita, depois de o apoiarem por anos, mas é importante e positivo. Parece-me positivo ter visto discursos como o de Mitch McConnell (líder da maioria do Partido Republicano no Senado).
Insurreição ou Autogolpe?
Questionado se os atos, de fato, configuram uma “insurreição”, como descreveu Joe Biden, o professor buscou ser didático.
“É uma variante do que na América Latina chamaríamos de autogolpe. É um presidente mobilizando seus apoiadores para permanecer no poder ilegalmente. Será um autogolpe fracassado, mas é uma insurreição do poder para tentar subverter os resultados da eleição e permanecer no poder ilegalmente. Eu diria que foi uma tentativa de autogolpe.”
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