José Olympio da Veiga Pereira, há dois anos, nutria o otimismo de quem acreditava que Jair Bolsonaro (sem partido) era uma boa opção para renovar a política brasileira e, ao mesmo tempo, atender aos interesses dos diversos grupos que ao lado dele chegaram ao poder.
Leia também: Banqueiros e empresários cobram políticas públicas contra a pandemia
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Veiga, apesar de muito contido em suas críticas, não teve nada de positivo para falar do governo. O atual presidente da Bienal de São Paulo e presidente do Credit Suisse Brasil, também foi um dos signatários da carta aberta divulgada por banqueiros e economistas cobrando que o Brasil adote medidas efetivas de combate ao coronavirus.
“Do final de 2018 para cá, muita coisa mudou. Acho que a gente está vivendo um momento que não dá para ser otimista. Tem que se render aos fatos. A gente está num momento muito, muito complicado”, afirmou ele à Folha.
Cultura descuidada
Considerado um dos maiores colecionadores de arte contemporânea do mundo, José Olympio foi empossado presidente da Bienal no final de 2018. Na época, disse que não iria comentar sobre a condução da cultura sob comando de Bolsonaro até saber quem estaria à frente.
Os ataques de Bolsonaro à Lei Rouanet e sua posterior extinção, também não foram motivo suficiente para desiludir o colecionador em relação ao governo. Disposto a não desgastar sua relação com o governo federal, logo no início da gestão Bolsonaro ele criou polêmica ao não se unir aos artistas e apoiadores da cultura que se opuseram ao rebaixamento da pasta do status de Ministério para Secretaria Especial.
“Acho que a cultura pode ser valorizada independentemente de estar debaixo de um ministério ou de uma secretaria. É importante lembrar que por muito tempo a cultura esteve subordinada à pasta da Educação”, falou à Folha na época.
Quando a situação “fica delicada”
Em setembro de 2019, ao comentar as falas absurdas do presidente (como a defesa da ditadura, golden shower, que ONG’s estariam por trás dos incêndios na Amazônia, etc) em entrevista ao site ArteBrasileiros, ele manteve a postura conciliadora e otimista. “A gente quer buscar é dizer que, apesar disso tudo, a gente tem esperança. A gente tem que ser capaz de dialogar, mesmo que não concorde com a ideia do outro”, comentou.
Leia também: Após 3 mil mortes e colapso na saúde, Governo e Congresso criam Comitê contra Covid-19
Agora, após todo o caos criado pela inegável má-gestão de Jair Bolsonaro frente à pandemia, as críticas de Veiga começam a tomar forma. Na mesma entrevista concedida à Folha de São Paulo nesta última terça (23), apesar da conhecida cautela, ele apontou uma “situação delicada” no setor.
“O próprio funcionamento da secretaria tem sido muito criticado. Acho que a cultura merece uma atenção maior”, comentou.
Mercado decepcionado com Bolsonaro
O lado banqueiro de José Olympio também não vê mais utilidade em permanecer calado diante às ações e omissões do presidente da República. Questionado se voltaria a apoiar Bolsonaro, ele negou, em uma frase, que também serviu para justificar o apoio dado em 2018.
“Naquele momento, ele representou uma esperança. Infelizmente, ela não se materializou da forma como todo mundo esperava. Todo mundo, não, na forma que os eleitores dele esperavam”, lamentou.