O refluxo econômico abrupto gerado pela pandemia do coronavírus tem afetado, de maneira significativa, o setor da economia criativa, que no Brasil emprega cerca de 4 milhões de pessoas, segundo levantamento do Observatório Itaú Cultural.
O dado foi informado pela gestora cultural, Rose Meusburger, durante bate-papo online ‘Economia criativa e pós-pandemia’ com o Socialismo Criativo.
Nessa conversa, a gestora cultural apresenta um breve panorama dos segmentos da economia criativa no Brasil, comparando com iniciativas mundo afora.
Para ela, que é mentora de empreendimentos criativos e integrante do conselho gestor da Rec Brasil, uma rede de fomento à economia criativa, o cenário pós-pandemia ainda é impreciso.
“Ainda não se sabe direito o que será no pós-pandemia. Eu acho que existem oportunidades sim, mas a gente não tem a mínima ideia, porque estamos tentando, talvez, durante a pandemia nos preparar ou criar novos hábitos para alguma coisa que a gente não sabe direito o que vai ser”, sugere ela.
Há mais de 20 anos atuando na área, Meusburger observa que as mudanças aceleradas pela pandemia, como o uso ostensivo de plataformas digitais, estão em curso há pelos menos 10 anos por conta dos avanços tecnológicos.
Contudo, revela ela, ainda há “uma massa muito grande de profissionais” que não faz uso de plataformas digitais. Por outro lado, Rose concorda que nesse momento de crise o virtual virou uma necessidade e as redes sociais têm sido usadas e fortalecidas.
“Eu vejo muitos artistas indo para as plataformas digitais e descobrindo formas de colocar os seus produtos no mundo virtual. O grande problema, e eu acho que até vai haver soluções daqui a pouco, é como monetizar isso. Porque o artista ia para a praça e lá ele abastecia o chapéu. Ele ia para o teatro e recebia o cachê dele. Na plataforma digital ainda há uma dificuldade dele receber pelo trabalho dele”, avalia ela que mantém o canal Elaborando Projetos no Youtube.
Economia criativa como ferramenta de desenvolvimento
Meusburger, para quem a cultura é um vetor de desenvolvimento das nações, destaca que diferente do Brasil, países como França, Alemanha e Inglaterra oferecem mais auxílio ao trabalhador criativo.
No país, em 2016 o setor da economia criativa teve uma receita de mais de R$ 350 milhões. O número é expressivo, contudo isso não se reverte em políticas públicas que fortaleçam o setor.
Ela lamenta que as iniciativas governamentais voltadas para a economia criativa sejam raras e pontuais, o que não concorre para a consolidação de uma política de Estado no país.
“A gente não tem uma política de estado voltada para a cultura ou para a economia criativa como um todo. No Brasil a gente não tem isso”, disse ela que lembrou de avanços importantes alcançados nas gestões passadas como o Programa Cultura Viva, que sofreu desmonte desde a última mudança na gestão federal.