
Nesta quinta-feira (25), a agência de notícias alemã Deutsche Welle desmentiu a declaração de Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o anúncio feito pelo chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, no qual ela supostamente teria cancelado o isolamento social mais rígido no país europeu em razão das possíveis consequências econômicas.
Em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro mentiu mais uma vez sobre reais causas do cancelamento para corroborar os seus discursos negacionistas em relação à pandemia do coronavírus e de oposição a medidas rígidas de confinamento.
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“A Angela Merkel, ia ter um lockdown rigoroso lá e ela cancelou [sic], pediu desculpas. Ela falou lá, segundo a imprensa, que os efeitos de fechar tudo são muito mais graves do que os efeitos do vírus, palavras delas, não é minha não”, argumentou Bolsonaro.
A verdade por trás da mentira
Contudo, a chanceler Merkel nunca afirmou que os efeitos de um ‘lockdown’ seriam mais graves que os da Covid-19.
Na quarta-feira (24), ao anunciar o cancelamento do isolamento rígido de Páscoa, Merkel afirmou que a forma como a medida havia sido anunciada “foi um erro“, mas citou que o recuo ocorreu por causa de dificuldades burocráticas, pelo curto espaço de tempo para implementar as medidas e pela natureza vaga do anúncio original. “Infelizmente, não planejamos suficientemente”, disse a chanceler.
“A ideia de uma paralisação na Páscoa foi elaborada com as melhores intenções, porque precisamos urgentemente desacelerar e reverter a terceira onda da pandemia”, disse a líder alemã. “No entanto, a ideia foi um erro. Havia boas razões para optar por ela, mas ela não pode ser implementada suficientemente bem nesse curto período de tempo”, completou. Merkel não minimizou o vírus nem apontou que os efeitos econômicos seriam piores.
Na madrugada da última terça (23), Merkel e os 16 governadores da Alemanha anunciaram a imposição de medidas restritivas especiais de Páscoa, que previam um longo feriadão de cinco dias consecutivos, obrigando o fechamento de quase todo o comércio, indústria e outros setores econômicos por dois dias extras — em tempos normais o fechamento de Páscoa tem duração de três dias. Além disso, igrejas não poderiam celebrar missas presenciais, entre outras medidas.
Críticas à chanceler da Alemanha
O anúncio foi alvo de críticas em vários estratos da sociedade alemã, por razões variadas. Setores da economia reclamaram que o anúncio deixava muitas questões em aberto, não previa medidas financeiras para compensar lojistas e indústrias e não dava uma janela suficiente para fábricas reorganizarem sua produção.
Igrejas também afirmaram que não foram consultadas sobre a proibição de missas presenciais no feriado mais importante do cristianismo e argumentaram que as cerimônias são possíveis com medidas básicas de distanciamento e higiene. Autoridades municipais, por sua vez, apontaram que a imposição de medidas rígidas em tão curto espaço de tempo poderia provocar aglomerações no comércio nos dias que antecederiam o feriadão prolongado.
Diante das críticas, governadores da Alemanha que haviam concordado com o plano retiraram seu apoio, ao perceberem que teriam que aprovar legislação especial em seus estados para impor o lockdown especial. Alguns argumentaram que isso não seria possível nos poucos dias úteis que restam antes da Páscoa.
Mesmo com o abandono das linhas gerais do plano, algumas medidas vão permanecer em vigor. Reuniões privadas só serão possíveis com um máximo de cinco pessoas de duas residências diferentes. Autoridades também continuam a pedir para que a população não viaje durante a Páscoa.
Responsabilidade
Após as críticas sobre o lockdown de Páscoa, Merkel assumiu a responsabilidade pela confusão, embora a decisão original não tenha sido tomada exclusivamente por ela. “Sei que todo esse assunto gerou mais incertezas. Lamento profundamente e peço desculpas a todos os cidadãos”, disse Merkel na quarta-feira.
A chanceler federal não tem poder para impor ou cancelar um ‘lockdown nacional’, pelas regras da Constituição da Alemanha, que assegura um sistema federativo rígido no país. Desde o início da pandemia, Merkel tem sido obrigada a negociar com os governadores uma estratégia comum. Sem apoio dos líderes regionais, Berlim não tem como reforçar medidas.
Com informações do portal DW