
Após o Supremo Tribunal Federal (STF) quebrar o sigilo e divulgar o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou o conteúdo divulgado e declarou que não entregará seu telefone à perícia, um pedido feito pelo ministro Celso de Mello.
Falando à imprensa na porta do Palácio da Alvorada na noite desta sexta-feira (22), ele afirmou que “não há um segundo” da gravação que mostre interferências políticas na Polícia Federal e fez críticas diretas ao ex-ministro Sergio Moro.
“Foi um tiro d’água, sequer um tiro de festim, foi um traque. O senhor Sergio Moro, uma pessoa que tem uma história, tem um passado. Mostrou corrupção bilionária em estatais, tenha um fim melancólico como esse. Um homem que tinha tudo para servir a sua pátria, tendo o presidente como seu líder”, disse Bolsonaro.
Em tom de deboche, o presidente disse ainda que Moro “sabia as regras do jogo” e conhecia as suas posições quando aceitou o cargo em seu governo. “A mulher casa comigo e quer que eu não tenha chulé”, ironizou.
No entanto, referindo-se ao trecho do vídeo em que sugere armar a população para deter as quebras de isolamento social determinadas por governadores e prefeitos, Bolsonaro deixou claro que não sabia da postura não-armamentista de seu ex-ministro. “O senhor ministro era desarmamentista. E eu não sabia disso. Achei que ele ia cumprir minhas bandeiras”, afirmou.
Ramagem
O presidente disse ainda que na esteira de seus desentendimentos com Moro, outro ponto central foi a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. De acordo com Bolsonaro, Moro sabia, desde o início de 2019, que esta era sua intenção e que, embora tenha cedido ao ministro ao acatar a nomeação de Maurício Valeixo, voltou a pensar em Ramagem após saber que o diretor-geral escolhido por Moro planejava deixar o cargo.
“Eu conheci um homem preparado, responsável, que participou de várias ações do combate à corrupção pelo Brasil”, afirmou, em referência ao período que o delegado, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), atuou em sua segurança na campanha presidencial de 2018.
‘Ninguém vai pegar meu telefone’
Em crítica à decisão do ministro Celso de Mello de acatar as três notícias-crime que pedem busca e apreensão dos telefones do presidente feitas por partidos políticos, Bolsonaro elevou o tom. “Retira seu pedido, porque meu telefone não será entregue. Ninguém vai pegar meu telefone”, avisou.
Na sexta, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, chegou a divulgar uma nota na qual diz considerar a requisição “inconcebível e, até certo ponto, inacreditável” e aponta que, caso aceita, a decisão poderá ter “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.