
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), bastante conhecido por suas paranoias de perseguição, dispensou a assistência jurídica a que tem direito pelas mãos da Advocacia-Geral da União (AGU) e contratará defensores particulares para 28 processos nos quais é réu.
Depois de um governo que de forma escancara aparelhou toda a máquina pública da administração federal, o antigo ocupante do Palácio do Planalto tem medo, agora, de ser alvo da mesma coisa que vinha fazendo enquanto estava na cadeira de presidente: ser vítima de aparelhamento.
Segundo reportagem do diário Folha de S.Paulo, nos 28 processos retirados da AGU — a maior parte deles tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF) —, estão ações sobre as multas sanitárias por conta de motociatas realizadas sem o uso de máscara, durante a pandemia, a apuração de atos antidemocráticos e até relacionados a pedidos da CPI para que se analisasse o comportamento dele em relação ao período das mortes pela Covid-19 no país.
Acreditando que possa não ser defendido de maneira adequada e com empenho pelos advogados da União que hoje são subordinados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a principal preocupação de Bolsonaro foi encaminhar para bancas privadas as ações sobretudo que estão nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, do STF, como nos casos em que ele é acusado de interferir no trabalho da Polícia Federal (PF) para livrar seus filhos e no conhecido episódio em que o líder de extrema direita vazou informações sigilosas de um inquérito sobre uma invasão hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os processos mais complicados devem ficar, diz a matéria, com o advogado Marcos Bessa, do PL, o partido do ex-presidente. Bessa é homem de confiança de Valdemar Costa Neto, o cacique todo poderoso da legenda, que abraçou Bolsonaro nos momentos finais de seu mandato, assim como após a derrota para Lula nas eleições de outubro do ano passado.
Nos casos envolvendo as multas e outras medidas por conta de seu comportamento incivilizado durante a pandemia, a defesa deve ficar com Karina Kufa, advogada que já atuou com a família Bolsonaro desde a eleição vencida pelo chefe do clã em 2018 e que é pessoa do convívio íntimo do grupo.
Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, ex-ministro do TSE, seguirá com as ações de natureza eleitoral e ele terá muito com que se preocupar, já que existem aproximadamente 20 processos tramitando nessa área do Judiciário nas quais se exige a inelegibilidade do ex-presidente. Quem também deve atuar nessa alçada é o advogado Victor Granado, defensor de confiança do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que já foi assessor do primogênito do ex-mandatário quando ele era parlamentar estadual no Rio.
Por fim, o fiel escudeiro Frederick Wassef deve permanecer à frente de um único caso: a facada recebida por Jair Bolsonaro na campanha presidencial na qual triunfou, em 2018, ocorrida durante um ato eleitoral em 6 de setembro daquele ano na cidade mineira de Juiz de Fora.