Em reportagem, Thais Regina, do Programa Ecoa, analisa o surgimento dos quilombos urbanos como polos culturais na disputa por um novo Brasil. Afinal, o Brasil está mais preto ou mais orgulhoso de ser preto?
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o número de brasileiros que se declaram pretos cresceu em todas as regiões do país entre 2015 e 2018. A contragosto da validação de pensamentos racistas existe um fenômeno de orgulho preto se fortalecendo nas ruas.
A reportagem relata a história de Fernando Alves, 38 anos, que começou a militar no Movimento Negro Unificado (MNU).Morador da Pedra do Sal (RJ), acompanhou todo o processo de volta do samba [a esse território]. Um dia, devido ao mau tempo, o samba foi cancelado em cima da hora e, então, a roda foi feita dentro da minha casa.
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Amigos já falavam que a gente precisava de um refúgio, um lugar tranquilo para fazer música e discutir sobre questões raciais. Em 2014, eu começo a abrir a casa para o público, às segundas e sextas, fazendo eventos pontuais: cine-debate, roda de conversa, o pessoal da percussão começa a se unir, se organizar e vira um quilombo cultural.
A Casa do Nando se tornou um importante ponto de encontro entre pessoas pretas na capital do Rio de Janeiro e o que começou literalmente na casa de Fernando encontrou seu lugar em um casarão no Largo da Prainha, há cerca de três anos. Em agosto de 2020 a Casa do Nando foi incendiada.
Além do desafio econômico em manter um centro artístico ativo, o racismo testava diariamente a resiliência do espaço e de Fernando, que chegou a receber ameaças de morte ao longo desses anos. Por outro lado, é preciso existir.
Ele se orgulha ao dizer que as pessoas que frequentam a Casa do Nando não abaixam a cabeça para a violência racial e vê o quilombo como um espaço de arte e gastronomia. A comunidade que frequenta os sambas da Pedra do Sal passou a entender o lugar como seu, logo a recheada agenda cultural era feita por e para pessoas pretas.
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Shows e exposições de artes plásticas eram as atividades mais populares, que dividiam o calendário da Casa com oficinas de instrumentos musicais, rodas de conversa, aulas de inglês (com a abordagem a partir de músicas estrangeiras) e oficinas de culinária afrocarioca.
A cultura é uma convergência entre todos os quilombos urbanos que foram ouvidos pelo reportagem. Um elemento fundamental da constituição e sobrevivência desses espaços.
É curioso como num espaço pode pulsar frescor, como nos quilombos urbanos. Isso remete ao quilombo histórico sim e sua função primordial: a vida. Em segundo lugar, um novo projeto de sociedade.
Quilombo é o símbolo máximo da persistência e reverte a imagem de rebelião como movimento espontâneo caótico para uma estratégia de sobrevivência determinada. Estamos aí para cobrar respeito, reparação, políticas públicas, o mínimo de permanência digna nessa terra , conclui Bieta.
Quilombos urbanos, hoje em dia, se assemelham mais porque assumiram para si uma responsabilidade que têm cada um com a sua respectiva comunidade; missão essa que se traduz em resistência e insurgência, afirma Moisés Victório do quilombo Casa Preta – um casarão centenário no centro histórico de Salvador.
De Salvador a São Paulo, do Rio de Janeiro ao Distrito Federal: esses territórios borbulham identidade e reverberam poder preto nas ruas.
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