Epilepsia, convulsões, dores crônicas, Parkinson, esclerose múltipla, autismo e náuseas e vômitos causados por quimioterapia. Esses são apenas algumas doenças, síndromes e condições que podem ser tratados com derivados da cannabis – a maconha. Esse é o tema da live que o Socialismo Criativo realiza nesta terça-feira (25). O relator do projeto que trata sobre a questão, deputado Luciano Ducci (PSB-PR), é o debatedor.
Será a partir das 19 horas nas páginas do Facebook do Socialismo Criativo e da Juventude Socialista Brasileira (JSB). Participam do debate o presidente do Instituto Pensar e membro da Executiva Nacional do PSB, Domingos Leonelli, o presidente da JSB Nacional, Tony Sechi; e a presidente da JSB Paraná, Luana Florentinno. O debate é aberto à participação de todos.
Autorreforma quer atualizar política de drogas
Em sua Autorreforma, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) defende a necessidade de atualizar a política de drogas, de modo a integrá-las a outras políticas sociais, especialmente, as de saúde pública. Além disso, reconhece o caráter discriminatório do encarceramento por conta do tráfico – outro problema gritante no Brasil.
“A criminalidade constatada no Brasil e que gera prisão, é de caráter patrimonial e relativas às drogas. As prisões relacionadas envolvem especialmente a população jovem, preta e periférica”, enfatiza o documento.
Legislação brasileira é entrave
Mundo afora, porém, o mercado se amplia em diversos segmentos que tem a planta como base: cosméticos, culinária e sistemas para empreendimentos do ramo da maconha.
A legislação brasileira, no entanto, ainda é o maior entrave para quem pretende trabalhar com a planta e seus variados usos – medicinais ou não. Embora algumas iniciativas consigam seguir por meio de decisões judiciais, sempre relacionadas ao uso medicinal da maconha, muita gente ainda precisa ir embora do Brasil para poder atuar em outros ramos. Levando com eles dividendos que giram em outras economias.
Cannabis deve girar quase U$ 104 bi nos EUA
O último relatório da The Global Cannabis Report, feito pela agência americana Prohibition Partners, por exemplo, prevê que o mercado em torno da cannabis deva movimentar US$ 103,9 bilhões em 2024. Nos Estados Unidos, já há cerca de 250 mil pessoas trabalhando no mercado legal da maconha. No Brasil, entraves, burocracias e retrocessos atrapalham o desenvolvimento de um mercado promissor. Sem contar as dificuldades de acesso de quem usa a planta com fins medicinais.
Outro estudo, este promovido pela New Frontier Data em parceria com a The Green Hub em 2018, projeta que em apenas 36 meses após a legalização das vendas dos derivados medicinais no país, o Brasil tenha 3,9 milhões de pacientes, o que representa um mercado de R$ 4,7 bilhões.
Em abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou dois novos produtos à base de cannabis. As soluções para uso oral à base de canabidiol poderão ser importadas dos Estados Unidos por empresas brasileiras para serem comercializados no Brasil. O plantio segue proibido mesmo para a produção de fármacos. E a aquisição dos produtos só pode ser feita por meio de prescrição médica e “quando esgotadas outras opções terapêuticas no mercado brasileiro”.
Leia também: Câmara dos EUA aprova descriminalizar maconha em todo o país
Exilados da maconha
Na contramão do quem tem se passado em terras brasileiras, empreendedores do ramo vão para países onde é possível explorar a cannabis em suas mais diversas potencialidades.É caso da biomédica Barbara Arranz, que se mudou para a Espanha para montar sua empresa de cosméticos canábicos. Esta e outras histórias foram contada pela revista Gama.
Natural de Mogi das Cruzes (SP), a maconha entrou na vida dela quando o filho mais novo foi diagnosticado com Síndrome de Asperger. Ela descobriu que o óleo fitoterápico da planta poderia ajudar no tratamento.
Com apoio da Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) conseguiu o produto. “A melhora dele foi incrível e me despertou o interesse por saber mais”, conta.
Leia também: Estado de Nova York avança proposta para legalizar maconha recreativa
Cosméticos à base de maconha
Na época ela ainda estudante de biomedicina e seu trabalho de conclusão foi sobre o uso da maconha em pessoas com Alzheimer. Depois de um curso sobre tratamentos com cannabis na Learn Sativa University, na Flórida, ela começou a testar misturas caseiras para cosméticos e distribuir para amigos e conhecidos.
A demanda foi crescendo e a ideia de virar um negócio surgiu. Como a família tinha o passaporte espanhol, seguiram para lá onde ela poderia empreender. Ela, o marido e os três filhos estão em Madri desde 2020.
Apesar da pandemia, Barbara lançou a Linha Canábica da Bá, que já conta com 22 produtos. Os carros-chefes são o óleo de CBD, o creme de massagem, o lubrificante e a linha de skin care. “Só para o óleo medicinal eu tenho 1500 pacientes fixos com entre 3 e 98 anos de idade”, conta.
Ela tem 25 funcionários no Brasil e mais de 30 na Espanha. Pela dificuldade com legislação brasileira, deve lançar em breve uma linha exclusiva para o Brasil com produtos infusionados só com terpenos (óleos aromáticos), que já são liberados para uso no país.
Leia também: ONU aprova retirada da maconha da lista de drogas perigosas
Culinária com toque de cannabis
Gustavo Souza, também conhecido como Gustavo Colombeck, apelido dado por amigos em alusão à planta, foi para o Uruguai em 2017. O país permite consumo e cultivo individual da maconha. Ele estudava gastronomia e trabalhava em restaurantes de Vitória (ES) quando a ideia de unir maconha e culinária surgiu. O estalo veio quando comeu um brownie de maconha em uma festa.
Juntou dinheiro e foi para Montevideo trabalhar em um hostel onde testava suas receitas. “Depois, comecei a vender alfajores de maconha em feiras de rua e espalhar folhetos anunciando minhas ‘cenas canábicas’, jantares privados que eu oferecia na casa das pessoas”, conta.
Foi um sucesso e, com a ajuda das redes sociais, foi convidado para passar uma temporada na Europa. Passou 8 meses em Barcelona cozinhando em eventos privados para clubes canábicos e a marca espanhola Cali Terpenes.
Leia também: Deputados do México aprovam legalização da maconha
Experiências diversificadas
De volta a Montevideo, em 2019, alugou um imóvel e começou a organizar eventos para grupos pequenos. Depois, mudou o projeto para uma casa a 800 metros da praia no pequeno vilarejo de La Coronilla. Lá ele cultiva a própria maconha, dá cursos, organiza jantares, faz degustações e hospeda até oito pessoas de uma vez.
Mais de 3,7 mil visitantes já saborearam pratos como Nhoque 420, com molho quatro queijos infusionado com óleo de cannabis, uma das criações mais pedidas do chef.
Gustavo mora há apenas 20 km da fronteira com o Brasil, onde ele compra ingredientes. Aqui ele também vai publicar seu primeiro livro, o “Manual da Culinária Canábica”, com 45 receitas, previsto para este ano. “Vejo pouca coisa mudando no Brasil, o que não me dá vontade de voltar. A liberdade de lidar com a planta aqui não tem preço.”
Sistemas para empreendimentos da maconha
Já o paranense Jonas Rossalto, natural de Pato Branco, desenvolve sistemas para empreendimentos da maconha no Uruguai. Frustrado com o cenário político do Brasil, ele foi de vez para o país vizinho em 2016, onde tem a empresa de tecnologia Cannabis Flow, focada em fornecer sistemas para headshops, farmácias e clubes canábicos.
Ele se orgulha de ter resolvido o problema das filas nas farmácias, comuns no Uruguai há alguns anos pela alta demanda por maconha, com o aplicativo Reservar Cannabis. Jonas também cuida do clube de assinaturas O Canabista, voltado para o público brasileiro, através do qual o cliente recebe mensamente um pacote com acessórios, manuais explicativos e brindes.
Ele gere ainda a empresa Weed Tour, que vende pacotes turísticos por locais relacionados à maconha no Uruguai – que está parada desde o início da pandemia. “Meu principal objetivo agora é fazer o setor evoluir dando suporte tecnológico para empresários e produtores. Acho que um jeito de quebrar o preconceito e fazer as leis andarem é mostrar como a maconha pode formar um mercado potente em setores diversos”, defende o empresário.
Leia também: Relatório de Ducci autoriza venda de cannabis medicinal
Enquanto a cannabis no Brasil…
A votação do projeto de lei (PL) 399/2015, sobre o uso medicinal de cannabis, que tramita na Câmara dos Deputados, é motivo de agressão no Congresso e ameaça do Executivo.
Durante uma discussão sobre um requerimento em uma comissão da Câmara, no último dia 18, o deputado bolsonarista Diego Garcia (Podemos-PR) deu um soco no presidente da sessão, Paulo Teixeira (PT-SP).
A agressão aconteceu após o bolsonarista não aceitar a rejeição do seu pedido de adiamento da discussão do projeto. O PL é de autoria do deputado Fábio Mitidieri (PSD-CE) e tem como relator o deputado federal Luciano Ducci (PSB-PR).
Antes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) havia classificado a proposta como “porcaria”. Ele não apresentou nenhum argumento técnico para embasar sua fala. E adiantou que vetará o projeto caso aprovado pelo Congresso. Decisão que, caso ocorra, pode ser derrubada pelo Congresso.
Leia também: Câmara dos Deputados retomará debate sobre cannabis medicinal
Com informações da Forbes, Veja Saúde, Uol, Gama