Uma planta cercada de tabus, mas que pode ajudar milhares de pessoas a enfrentar e conviver com diversas doenças. A cannabis, mais conhecida como maconha, tem uso medicinal comprovado por estudos científicos sérios, embora muitas pessoas precisem ir à Justiça para garantir o direito a medicamentos à base da planta.
Jair Bolsonaro (PL) e seus posicionamentos negacionistas conseguiram atingir parte da população inclusive com relação ao uso da planta e houve redução no percentual de pessoas que aprovam o uso da cannabis com fins medicinais.
Porém, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já liberou alguns desses medicamentos. A última autorização foi dada em abril deste ano. Paralelo a isso, pesquisadores Brasil afora buscam na planta a cura para doenças e qualidade de vida para quem tem que conviver com enfermidades ainda incuráveis.
Em Brasília, uma pesquisa realizada por duas formandas em Biomedicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Ana Carolina Guimarães e Natasha Soares indicam a eficácia do canabidiol (CDB) para tratar a epilepsia infantil.
Intitulado “Eficácia do uso de canabidiol em pacientes pediátricos com epilepsia refratária ao tratamento: uma revisão sistemática”, faz um levantamento de estudos que testaram crianças a partir de um mês de vida, a pesquisa aponta que a maioria dos pacientes utilizou o óleo de canabidiol purificado (60%) e 40% produtos combinados de CB e Tetrahidrocanabinol.
Os experimentos envolveram crianças com as síndromes: Lennox- Gastaut, West, Dravet, Doose, Ohtahara, Epilepsia focal e Multifocal, Encefalopatía epiléptica, epilepsia generalizada, epilepsia infantil intratável, espasmos infantis, Sturge-Weber e epilepsia infantil de ausência focal.
Quanto à frequência das crises, 14 estudos apresentaram pacientes que cessaram totalmente as crises. Entretanto, a maioria dos participantes envolvidos (80 -100%) na pesquisa dos 25 artigos, tiveram reduções menores das frequências das crises.
O volume de dados levantado por Ana Carolina e Natasha Soares reforça a segurança e a eficácia da canabis medicinal. Além disso, os efeitos colaterais são mais leves do que os tratamentos tradicionais que, geralmente, são tóxicos e invasivos para crianças.
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Pacientes vão à Justiça
A Anvisa permite atualmente comercialização de 15 medicamentos à base de cannabis. Porém, nem sempre o que é permitido atualmente atende a todos os pacientes.
Em junho, por exemplo, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) permitir que três pacientes plantem cannabis com fins medicinais por meio de um salvo conduto.
Em um dos casos analisados, o paciente solicitou autorização para plantar 15 mudas da planta a cada três meses – total de 60 por ano – e a produção de canabidiol enquanto estiver em tratamento.
De acordo com os médicos, o paciente tem diabetes, ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, transtorno misto ansioso e depressivo, transtorno depressivo recorrente e fobias sociais.
O paciente tem autorização da Anvisa para importação, mas pediu para fazer o cultivo caseiro sem que fosse preso ou processado.
Em outro caso, dois pacientes comprovaram a necessidade de tratamento médico com medicamentos à base de canabidiol. Médicos atestaram expressiva melhora em seus quadros de saúde, o que não aconteceu com outros tratamentos empregados.
Polarização em torno da maconha
A polarização promovida por Jair Bolsonaro conseguiu alterar percepção de parte da população sobre o uso da maconha medicinal. Pesquisa PoderData divulgada nesta terça-feira (26) mostra que o percentual de brasileiros que são contra a liberação cresceu e passou de 26%, em janeiro, para 37%. O levantamento foi realizado de 17 a 19 de julho de 2022.
A maioria da população aprova o uso da cannabis com fins medicinais, mas caiu 7 pontos percentuais e está em 54%.
Ainda assim, os bolsonaristas seguem divididos sobre o tema com 45% a favor e 45% contra. Quem desaprova o governo Bolsonaro seis em cada 10 entrevistados são a favor da liberação da cannabis com fins medicinais contra 31%.
Foram 3.000 entrevistas em 309 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O intervalo de confiança é de 95%. O registro no TSE é BR-07122/2022.
PSB defende atualização de políticas
Em sua Autorreforma, aprovada em abril, o PSB defende que é necessário atualizar a política nacional sobre de drogas, de modo a integrá-la a outras políticas sociais, especialmente com as da saúde, física e mental, e assistência social, dando especial atenção às políticas de redução de danos.
O deputado federal Luciano Ducci (PSB-PR) foi relator do Projeto de Lei (PL 399/2015), que autoriza a plantação da cannabis para fins medicinais, veterinários, industriais e científicos. Ele defende que o acesso a fármacos e medicamentos derivados da cannabis pode mudar a vida de pessoas que sofrem com as mais variadas doenças e síndromes.
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“Temos que garantir o acesso para as famílias a esses medicamentos, que aumentam a qualidade de vida das pessoas que sofrem com convulsões. Hoje crianças que tinham de 30 a 40 convulsões por dia deixam de ter convulsões diárias a partir do tratamento com remédios à base de cannabis“, declarou.
Com informações da Fórum, CNN, Poder 360