Nesta quinta-feira (18) tive o privilégio de assistir a uma aula sobre a cerimônia do chá e aprendi sobre a origem histórica, os utensílios para beber, a etiqueta e as variedades chinesas. Compartilho aqui algumas curiosidades que eu aprendi.
A China é o berço do chá e a cultura em torno da bebida é um dos símbolos da tradição do país. Mas a relação dos chineses com o chá vai além de uma herança cultural única e o país conta com variedades com um sabor especial. O chinês não vivem sem chá e desde os tempos antigos descobriu e começou a combinar a bebida com o estilo de vida.
Diz a lenda que o chá foi descoberto por Shen Nong, um dos Três Imperadores. Ele é o ‘deus humano’ e faz parte da tríade de divindades da cosmovisão chinesa que usou poderes mágicos para melhorar a vida das pessoas. Há ainda Fu Xi (deus celestial) e Nüwa (deus terreno).
Shen Nong é a divindade da agricultura e da medicina. Além de ensinar as pessoas a cultivar grãos, ele provou todos os tipos de ervas e julgou quais plantas eram boas para a saúde e quais eram venenosas.
Um dia, para encontrar vegetais de valor medicinal, ele foi para as montanhas e testou uma centena de ervas e teve o azar de ser envenenado 72 vezes em um único dia. Uma das plantas de gosto amargo clareou a mente dele, que acabou se sentindo melhor depois de um certo tempo graças ao chá que havia descoberto. Ele disseminou a novidade para as pessoas.
Para além da mitologia, o valor medicinal do chá é reconhecido desde a antiguidade pelos chineses. As árvores de chá têm sido cultivadas na região da província de Sichuan – meu primeiro destino em solo chinês e que fica no sudoeste do país – desde a dinastia Zhou (1046 aC – 771 aC).
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Ao longo dos séculos, o hábito de consumo do chá mudou de acordo com as dinastias que governaram o país. No reinado Tang (618 – 907) a bebida ganhou um status requintado e foi elevada para o reino espiritual do “caminho de beber”. Nesse período, a cerimônia do chá era bastante complicada, com as plantas em um formato compacto como um ‘bolo de chá’ e eram realizadas competições e feitos desenhos sobre a espuma produzida durante a preparação da bebida.
A dinastia Ming (1368-1421) simplificou a cerimônia que era demorada e trabalhosa e a bebida foi popularizada. O ‘bolo de chá’ foi abolido e passou a ser distribuído a granel, o que aliviou o fardo dos produtores. O chá começou a ser preparado diretamente com água fervente para beber. Aos poucos, foram surgindo utensílios para tomar a bebida, como o bule de alabastro e a tigela coberta.
A cerimônia do chá como existe hoje só surgiu nas últimas décadas e nasceu nas províncias de Taiwan, Fujian e Guangdong, grandes produtoras dessas plantas. A princípio era muito elegante, mas com o tempo o processo foi simplificado e atualmente é simples e prático e tem como foco o melhor proveito do sabor do chá.
Para os chineses a infusão não é apenas para beber, é preciso também apreciar o aroma, a cor e se há ou não brilho. Há cinco categorias principais de chá chineses, classificadas de acordo com a fermentação das folhas: verde, branco, amarelo, verde-escuro e preto, além dos de flores como jasmim e rosas e de ervas.
Nos últimos anos, o chá ganhou novos estilos na China: de bolhas, de espuma de queijo e de limão, café-chai. Essas novidades começaram a decolar antes da pandemia da covid-19 e ganharam impulso com o isolamento social. Eu ainda não experimentei essas invenções, assim que tiver a oportunidade eu compartilho a experiência.
Minha preferência é pelo chá de jasmim, que eu aprendi que é muito apreciado em Beijing. Segundo a explicação, é que além da fragrância deliciosa da flor, a água da cidade tem o sabor levemente amargo que é amenizado com mistura do jasmim com o chá verde.
Depois dessa aula sobre o chá, a cada gole que eu tomar a partir de agora eu estarei sorvendo muito mais do que uma infusão de folhas, flores ou ervas, estarei me conectando com o estilo de vida milenar de um povo que cultiva os prazeres simples da vida.
Saúde!
Até amanhã