
A reação no Twitter após o presidente Jair Bolsonaro se recusar a responder sobre os depósitos de R$ 89 mil do ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e ameaçar um repórter do Globo apresentou uma atuação inédita da oposição ao presidente nas redes sociais, segundo o professor Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Malini analisou a mobilização no Twitter após o episódio e identificou mais de um milhão de mensagens únicas, até o fim da noite de domingo, que questionavam por que o presidente não respondeu a pergunta do jornalista sobre os depósitos feitos na conta de sua esposa.
O professor aponta um comportamento diferente das habituais mobilizações em massa nas redes, com os usuários em uníssono repetindo a mesma mensagem e marcando a conta do presidente.
Malini explica que, apesar da participação de artistas, jornalistas e celebridades com muitos seguidores, a maior parte das publicações não foi o simples compartilhamento de mensagens desses influenciadores, mas sim postagens dos próprios usuários em seus respectivos perfis.
Em geral, no Twitter, o papel de organizador e catalisador do debate cabe aos influenciadores – como políticos ou celebridades – e a maioria dos usuários interage com eles. Contudo, não foi o que aconteceu no domingo, quando a massa das publicações ocorreu sem o compartilhamento dos posts de perfis mais populares.

De acordo com o professor, essa forma de atuação passou a ser mais utilizado pela direita e por apoiadores do bolsonarismo a partir de 2015, mas era inédito na oposição ao presidente. O resultado é a imagem que mostra o perfil de Bolsonaro isolado e cercado nas redes.
“Muitos influenciadores usando uma mensagem igual para escrever gera uma onda de contágio. Contudo, as pessoas individualmente precisam tomar coragem de publicar algo, dado que compartilhar esses influenciadores seria mais cômodo. Publicar algo implica dar mais ênfase a sua voz ainda que se tenha poucos seguidores.”
Alerta vermelho
“A mesma pergunta publicada muitas vezes por muitas pessoas não influentes liga o alerta vermelho do político, porque ele percebe que não se trata de fãs reagindo, mas de gente de carne e osso. De modo massivo, acessando diretamente as contas do presidente, é a primeira vez”, explica Malini.
O professor destaca que um sinal do tamanho da repercussão da mobilização e como afetou a popularidade online do presidente é que muitos usuários reclamaram de terem sido bloqueados pela conta de Bolsonaro:
“Um dos indicadores mais simples para identificar se a repercussão afeta a gestão da popularidade política online é quando os administradores das contas de políticos começam uma roleta russa de exclusão de comentários, principalmente, no Instagram e Facebook. Um trabalho desmedido, já que eles têm de banir milhares de pessoas manualmente ou usando filtros semânticos. E foi o que ocorreu. Muitos usuários reclamavam do “delete” recebido, o que estimulou neles o desejo de reescrever o mesmo comentários, até que foram banidos da conta”, diz.
Com informações do jornal O Globo