Após desgaste causado pelo ministro Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tomou as dores do chanceler e pediu, no ano passado, a troca do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, Pequim ignorou as duas solicitações brasileiras.
Os governos têm a prerrogativa de expulsar do país diplomatas estrangeiros, mas esse gesto é considerado extremado e com o potencial de prejudicar as relações bilaterais.
O estopim que motivou o pedido foi o embate no Twitter entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o diplomata chinês. Em março de 2020, o filho do presidente publicou um texto que comparava a pandemia da Covid-19 ao acidente nuclear de Tchernóbil (1986) e afirmava que o país asiático tinha responsabilidade pela disseminação da doença.
“Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas”, escreveu o deputado na época.
Yang classificou a fala de Eduardo de “insulto maléfico”, e o perfil oficial da embaixada veiculou uma publicação que acusava o deputado de ter contraído um “vírus mental”. O embate acentuou o desgaste diplomático entre os dois países.
No fim de março, Ernesto enviou para Paulo Estivallet de Mesquita, o embaixador do Brasil em Pequim, um telegrama diplomático solicitando que ele entregasse um documento formal ao governo chinês pedindo a substituição de Yang.
Em novembro, no auge dos ataques à Huawei motivados pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Eduardo voltou a atacar a China com acusações de promover a espionagem industrial via equipamentos 5G. O tema também motivou outra carta enviada por Ernesto à embaixada da China em Brasília.
“Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais. Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados”, afirmou o Itamaraty na carta, encaminhada em novembro.
Oficialmente, não houve respostas sobre os pedidos de troca de Yang. No entanto, Pequim fez chegar a autoridades brasileiras a informação de que seu embaixador no Brasil é um quadro conceituado do serviço público chinês.
O constrangimento de Ernesto ficou mais evidente quando o presidente Bolsonaro foi obrigado a procurar a China sobre a liberação de insumos para a fabricação da vacina contra o coronavírus. Com o desgaste, o presidente teve que conversa diretamente com o líder do país, Xi Jinping.
Para contornar a falta de diálogo do Itamaraty com a embaixada chinesa, o presidente acatou sugestões de ministros que formaram uma espécie de “tríplice aliança” para tentar salvar a relação do Brasil com seu principal parceiro comercial. Fazem parte dos esforços os ministros Eduardo Pazuello (Saúde), Tereza Cristina (Agricultura) e Fábio Faria (Comunicações).
Com informações da Folha de S.Paulo