O Brasil registrou o maior aumento no número de novos casos entre os cinco países mais atingidos pela Covid-19 em todo o planeta e deve enfrentar a pior fase da pandemia nas próximas semanas. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que a expansão de novos infectados no país foi de 21% nos últimos sete dias, enquanto o mundo registrou queda de 6%. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (20), na coluna do jornalista Jamil Chade.
De acordo com a Organização, 4,7 milhões de novos casos da doença foram diagnosticados na semana entre os dias 10 e 17 de janeiro.
Se o número de infecção é menor que na semana anterior, as mortes atingiram um pico inédito de 93 mil óbitos em apenas uma semana, um crescimento de 9% de novos casos em relação à semana anterior. Isso significa que, neste momento, no mundo, existem 93 milhões de casos e mais de 2 milhões de mortes.
Resultado das contaminações
Na Europa, onde governos adotaram medidas de restrição de movimento até meados de fevereiro, a queda no número de novos casos é de 15%, ainda que as mortes continuem a aumentar.
Para a OMS, os óbitos registrados hoje são resultado do cenário de contaminações há duas semanas. Para que haja uma queda no óbito, a tendência registrada nesta semana de redução de novas transmissões teria de ser mantida. A partir de fevereiro, portanto, a curva de mortes também sofreria então uma queda.
O maior impacto na semana continua sendo registrado nos EUA, com 1,5 milhão de novos infectados. Isso representa uma queda de 11% em comparação à semana anterior.
O Brasil somou 379 mil casos, um aumento de 21%. Uma vez mais, o Brasil é o país com o maior salto entre os locais mais atingidos pelo vírus. A situação levou o país a superar uma vez mais o Reino Unido, que conseguiu registrar uma queda de 19% em seus novos casos na semana, diante de um lockdown estabelecido pelo governo.
O aumento de mortes no Brasil foi ainda de 12% em comparação à semana anterior, com 6,7 mil novos óbitos. A taxa de expansão é similar ao que foi registrado nos EUA, que somam 23 mil novas mortes na semana.
Pico da pandemia
Segundo especialistas em saúde, a situação do Brasil deve se tornar ainda mais alarmante nas próximas semanas, mais precisamente entre o final de janeiro e o início de fevereiro.
“Estamos num momento bem preocupante. Talvez as pessoas não estejam percebendo ainda, mas tudo indica que as próximas semanas serão complicadas”, antevê o bioinformata Marcel Ribeiro-Dantas, pesquisador do Institut Curie, na França.
De acordo com o levantamento feito pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), o país contabiliza até o momento 8,5 milhões de casos e 210 mil mortes por covid-19. Nos últimos dias, a confirmação de novas infecções e óbitos pela doença tem se mantido num patamar considerado alto.
Efeito das festas e ciclo do vírus
Com relatos de aglomerações nos últimos dias de dezembro, a despeito das orientações das autoridades em saúde pública, os efeitos das festas de fim de ano começam a ser sentidos agora. E isso pode ser explicado pela própria dinâmica da Covid-19 e o tempo que a doença demora a se manifestar e se desenvolver.
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“A transmissão do vírus pode até ter ocorrido durante essas festas, mas a necessidade de ficar num hospital ou até a morte do paciente leva semanas para acontecer”, nota o estatístico Leonardo Bastos, pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Em linhas gerais, o indivíduo que é contaminado pelo coronavírus pode demorar até 14 dias para ter algum sintoma (como febre, tosse seca, dores, cansaço e falta de paladar ou olfato).
O problema é que, nesse ínterim, ele pode transmitir o agente infeccioso para outras pessoas, criando novas cadeias de transmissão na comunidade. Já nos quadros mais graves da doença, que evoluem para falta de ar e acometimento dos pulmões, há uma janela de cerca de sete dias entre o contato com o vírus e a necessidade de internação. Depois da hospitalização, os pacientes que morrem por Covid-19 podem ficar até cinco semanas num leito antes de falecer.
Com informações do Uol e BBC Brasil