Com Donald Trump deixando a Casa Branca e o democrata Joe Biden assumindo o seu lugar nesta quarta-feira (20), a boa relação do Brasil com os Estados Unidos tende a afundar se o governo Bolsonaro insistir na sua política ambiental desastrosa e na condução ideológica de seu ministério das Relações Exteriores.
De acordo com a avaliação de quatro embaixadores, que falaram ao El País sob a condição do anonimato, uma sinalização de que a política brasileira estaria além da relação Donald Trump-Bolsonaro seria demitindo os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Ernesto Araújo (Itamaraty).
Europa dará apoio a possíveis vetos de Biden
Para os diplomatas, os chanceleres de países europeus, principalmente, darão suporte a qualquer veto ou restrição que Biden fizer ao Brasil por conta política ambiental. “A França já sinalizou que quer deixar de ser dependente da soja brasileira. A tendência é que, sem a proteção ambiental, os países encontrem mais argumentos para impor barreiras ao Brasil e, consecutivamente, protegerem os seus próprios produtores”, disse um diplomata europeu.
A chegada de Biden encontra o Brasil em uma situação já frágil com o isolamento internacional gerado pelo governo federal, que já vem ocasionando sérios problemas ao país como a dificuldade de adquirir doses prontas da vacina Oxford/AstraZeneca da Índia e os insumos para a fabricação de imunizantes vindos da China.
Uma das possibilidades que tem sido aventada no âmbito internacional seria a de Biden apoiar que a Organização Mundial do Comércio (OMC) estabeleça uma política de restrição a quem infringir determinadas normas ambientais.
“Os EUA querem criar uma nova doutrina mundial que prima pelos predicados da economia verde, da proteção da biodiversidade, mas também como componente vital na regulação das relações comerciais”, ressalta o cientista político e pesquisador de Harvard, Hussein Kalout, que foi secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência sob o Governo Michel Temer.
Secretário é mais uma indício
Outra indicação de que a política de Biden também enfraquecerá Bolsonaro foi a opção dele por Anthony Blinken para o cargo de secretário de Estado. Ele é um defensor do multilateralismo, ao passo que o presidente brasileiro, assim como Trump era, é um crítico das organizações internacionais e defensor de acordos bilaterais.
O Brasil, porém, terá um tempo até sofrer as reais consequências dos posicionamentos de Bolsonaro após a posse de Biden. Isso porque o presidente norte-americano assumirá os EUA extremamente polarizado em meio ao combate à pandemia de coronavírus e a crise econômica.
Com informações do El País