O pesquisador e coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância da Fiocruz Brasília, Cláudio Maierovitch, afirmou nesta sexta-feira (17) que a instituição não recomenda o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para tratar pacientes com coronavírus.
A declaração foi uma resposta à orientação sugerida pelo Ministério da Saúde para que a instituição divulgasse e ainda por cima recomendasse “amplamente” o uso da substância no tratamento precoce de pacientes da covid-19, a despeito das evidências científicas indicarem a ineficácia dos medicamentos no combate ao novo coronavírus.
Em entrevista ao canal GloboNews, o sanitarista disse que não há estudos que comprovem a eficácia do medicamento.
“A Fiocruz orienta profissionais, ela afirma que não há base científica para a cloroquina, pelo contrário, há evidências de que não deve ser utilizada. Mas, se recebe comunicado do Ministério da Saúde, não pode deixar de informar seus profissionais”, declarou Maierovitch. “Internamente, é conhecido [na Fiocruz] que [a cloroquina] não tem eficácia.”
De acordo com ele, a Fiocruz, como instituição pública, tem a obrigação de retransmitir comunicados enviados pelo Ministério da Saúde a seus profissionais. No entanto, isso não interfere nas pesquisas e estudos desenvolvidos pela instituição e também não significa que a Fiocruz corrobora o conteúdo do ofício.
“Nesse caso, não é papel da Fiocruz dizer à sociedade que aquilo deve ser praticado, isso cabe os canais do próprio Ministério da Saúde. Não é conhecimento da Fiocruz ou que tenha respaldo científico da Fiocruz, é um ofício enviado a vários serviços de saúde que a Fiocruz recebe e informa a quem deve ser informado dentro da instituição”, afirmou.
Estudos da OMS sobre cloroquina
Atualmente, a Fiocruz participa do estudo Solidarity, da Organização Mundial de Saúde (OMS), cujos testes com a cloroquina e a hidroxicloroquina foram suspensos há um mês, em 17 de junho, porque todos os resultados obtidos até então apontavam que as substâncias “não reduziam a mortalidade dos pacientes”.
Outro grande estudo sobre a eficácia dos remédios, o Recovery, foi conduzido pelo Reino Unido com a participação de mais de 11 mil pacientes. Também em junho, seus principais coordenadores emitiram um comunicado concluindo que “não há efeito benéfico” no uso da hidroxicloroquina.
Ofício da Saúde
Mesmo assim, em 30 de junho, o secretário de atenção especializada à saúde, Luiz Otávio Franco Duarte, enviou um ofício endereçado à presidência da Fiocruz e à direção dos institutos Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) e Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF), solicitando “a ampla divulgação desse tratamento, considerando que ele integra a estratégia do Ministério da Saúde para reduzir o número de casos que cheguem a necessitar de internação hospitalar para tratamento de síndromes de pior prognóstico, inclusive com suporte ventilatório pulmonar e cuidados intensivos”.
O ofício diz ainda: “São medidas essenciais a tomar e divulgar: Considerar a prescrição de cloroquina ou hidroxicloroquina, mediante livre consentimento esclarecido do paciente com diagnóstico clínico de Covid-19, para tratamento medicamentoso precoce, ou seja, nos primeiros dias dos sintomas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Em nota divulgada na quinta-feira (16), o ministério confirmou que se trata de “de ofício de caráter administrativo para orientar os institutos e hospitais federais sobre a Nota Técnica divulgada pelo Ministério da Saúde, que trata do enfrentamento precoce da covid-19”. E acrescentou: “Cabe informar que a pasta divulgou novas orientações sobre uso de medicamentos, em que a prescrição permanece a critério do médico, sendo necessária também a vontade declarada do paciente”.
Com informações do Estadão e UOL.