
Não bastasse a demora para adquirir vacinas e imunizar os brasileiros de forma segura e efetiva, agora o problema são os dados da vacinação no Brasil. Os dados do Ministério da Saúde de contagem de vacinação contra a Covid-19 no país apresentam uma diferença de mais de 1,2 milhão de doses entre o Painel de Vacinação no site da pasta e os microdados do OpenData SUS, do Sistema Único de Saúde.
Os números são diferentes apesar de a fonte dos dados, o Sistema de Informação do Plano Nacional de Imunização, e a periodicidade de atualização serem a mesma. A discrepância consta no Painel de Dados elaborado pela Open Knowledge Brasil com apoio da Lagom Data para monitorar a defasagem dos dados sobre a imunização contra a Covid-19.
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Defasagem nos dados da vacinação
No painel é possível observar a quantidade de municípios que estão registrando os números da vacinação com atraso. O informe, que deve ser feito em até 48 horas após a vacinação, tem levado mais de seis dias em 2.126 cidades, 38% do total, para ser atualizado. Em 51 localidades, não há atualização há mais de um mês.
Outra informação alarmante é a quantidade de registros que deixam de informar o grupo prioritário, ou seja, a razão pela qual a pessoa foi vacinada — se pertence ao grupo de idosos, trabalhadores de saúde etc. Isso acontece atualmente em quase 500 mil registros.
“São indicadores fundamentais para compreender se os dados que estão sendo disponibilizados pelo Ministério são íntegros e confiáveis, além de atualizados e consistentes . Abrir os dados é fundamental e representa um avanço, mas se não houver qualidade, as análises ficam distorcidas.”
Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil.
CPI da Pandemia questiona transparência
A denúncia de defasagem nos dados da vacinação surge em um momento delicado para o governo. O acesso à informações e transparência sobre a pandemia são temas frequentemente debatidos e investigados na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado.
Entre os assuntos abordados na comissão, está a interrupção na divulgação do número de vítimas do coronavírus ainda em 2020, que originou o Consórcio de Veículos de Imprensa, que precisou assumir a responsabilidade por colher os dados das secretarias de estados e municípios e divulgar os números da Covid.
Outra questão abordada na CPI é a demora do governo para comprar os imunizantes, mesmo tendo sido procurado por empresas como a Pfizer para adquirir vacinas suficientes para imunizar a população brasileira antes e em maior velocidade. A escolha do governo Bolsonaro de posicionar-se, a partir da figura do presidente, contra a vacinação, também é debatida na comissão e adiciona mais peso ao caos da imunização no Brasil.
Transparência paralela para vacinação
O site transparenciavacina.org.br, que já recolheu mais de 4.500 assinaturas para petição exigindo dados objetivos e transparência aos órgãos competentes, expõe os problemas relativos ao programa de imunização contra o coronavírus.
Elaborado por uma equipe de especialistas em políticas públicas, transparência e saúde, o site ajuda a população a saber quais dados e informações são divulgados pelo Ministério da Saúde e os que deveriam ser de conhecimento público, mas não estão acessíveis ou disponíveis.
Com informações de Brasil de Fato