A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e as unidades espalhadas pelo Brasil têm atuado em diversas frentes para auxiliar a diminuir os impactos da Covid-19 nas populações em maior vulnerabilidade. A Plataforma de Inteligência Cooperativa com a Atenção Primária em Saúde (PICAPS) oferece formação de agentes populares de saúde e apoio solidário com a comunidade de catadores do Distrito Federal.
Fome, pobreza extrema, condições precárias de moradia e falta de acesso a saneamento básico, alto grau de exposição a doenças em situação de insalubridade e falta de equipamentos de segurança. Além de perdas de vidas cotidianas de colegas ligados ao processo de coleta, separação e comercialização dos materiais recicláveis são algumas dificuldades apontadas por catadores.
Impactos na educação dos filhos
As famílias também relataram a dificuldade para conciliar trabalho, cuidados da casa e as crianças onde devem garantir a participação dos filhos nas aulas e atividades escolares. Na maior parte das moradias há mais de uma criança em idade escolar e muitos não têm um equipamento com acesso à rede de internet, quando possuem, há apenas um aparelho celular sem velocidade de rede adequada.
A falta de acesso à informação por parte dos trabalhadores também foi um tema discutido na oficina, pois tem trazido graves consequências, como o abandono das importantes medidas de proteção contra a Covid-19, o distanciamento social e o uso de máscaras.
Fiocruz mapeia situação de catadores do DF
A iniciativa é da Fiocruz Brasília em parceria com o projeto do Radar de Territórios da Covid-19 do Distrito Federal (DF) e teve início em abril. Pesquisadores, técnicos e residentes dos programas multiprofissionais da fundação, representantes da Cooperativa de Catadores Comunidade Reciclo, do Movimento Popular por Moradia do DF e Região (AMORA) e da Central de Movimentos Populares (CMP) estiveram reunidos em uma usina de reciclagem localizada no Riacho Fundo II, região administrativa do DF. O assunto foi a situação dos catadores e catadoras desde o início do último ano.
Formação de agentes populares de saúde
No escopo da iniciativa voltada a esses trabalhadores, a Fiocruz Brasília realizará o Curso de Formação de Agentes Populares de Saúde na comunidade do Riacho Fundo II, estendida a outras regiões administrativas do DF. A fundação também pretende fortalecer a visibilidade dessa comunidade em redes solidárias que tem apoiado, como o Fundo de Resiliência Solidária do DF.
O curso articula aprendizado, práticas, espaços e segmentos, buscando fortalecer o protagonismo popular no enfrentamento da Covid-19, como forma de implementar a vigilância popular nos territórios do DF. Conhecimentos sobre o novo coronavírus, formas de prevenção e cuidados, e os direitos fundamentais para a qualidade de vida das pessoas e comunidades e preservação da vida são algumas temáticas oferecidas na capacitação.
“O relato desta articulação e vivência é um estímulo à continuidade do processo de promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis em curso pela Fiocruz em múltiplos territórios do país, perspectiva que se releva de importância no enfrentamento da pandemia”, explica Wagner Martins, coordenador da Picaps e coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz Brasília.
O pesquisador da Fiocruz Brasília Osvaldo Bonetti também avalia que a abertura do movimento e acolhida ao processo de formação de agentes populares é importante, porque a mobilização de pessoas que vivem, sofrem das mesmas situações e conhecem as potencialidades do território, somando aos esforços das equipes do SUS, poderá trazer impactos positivos para a prevenção e promoção da saúde.
A parceria com a Fiocruz foi destacada pela coordenadora da Cooperativa de Catadores Comunidade Reciclo, Jaqueline Souza. “É de fundamental importância contribuir com a comunidade de catadores na luta por seus direitos e, em especial, para enfrentar o momento dramático por que passam na atualidade”, ressaltou.
Fiocruz lança livro sobre impactos sociais da pandemia
Os efeitos de uma pandemia vão muito além do processo saúde e doença. No Brasil e em outros países, são várias as iniciativas encabeçadas por organizações, movimentos, instituições, acadêmicos, pesquisadores e especialistas das áreas de ciências sociais e humanidades que vêm analisando os fenômenos causados pela emergência global da Covid-19 a partir de marcadores sociais diversos, como raça, gênero, classe social, sexualidade, territórios e dinâmica social e econômica.
O Observatório Covid-19 Fiocruz e a Editora Fiocruz lançaram o livro ‘Os Impactos Sociais da Covid-19 no Brasil: populações vulnerabilizadas e respostas à pandemia’.
Organizado pelos pesquisadores Gustavo Corrêa Matta, Sérgio Rego, Ester Paiva Souto e Jean Segata, o volume é o segundo da série Informação para Ação na Covid-19, uma parceria entre o Observatório e a Editora Fiocruz, conta também com a participação de Carlos Machado de Freitas, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e coordenador do Observatório Covid-19 Fiocruz.
Os Impactos Sociais da Covid-19 no Brasil segue a ideia central da iniciativa encabeçada pelo Observatório: reunir o conjunto de respostas, pesquisas e ações técnicas produzidas pela Fiocruz durante a pandemia.
“Analisar e intervir sobre os fenômenos decorrentes da circulação e transmissão não se resume a identificar o vírus, compreender sua disseminação e controlá-lo. A colocação em cena da Covid-19 em diferentes contextos, espaços e linguagens, especialmente em situações de extrema desigualdade sociossanitária, expõe a multiplicidade e especificidade do fenômeno pandêmico (…)”,
E-book
A coletânea tem 17 capítulos, divididos em três partes – viabiliza o acesso do público a um panorama de debates, ações e trabalhos que vêm sendo realizados – sob os mais diferentes prismas sociais – para o enfrentamento da crise humanitária.
Com informações da Fiocruz Brasília