No fim da segunda-feira (22), o Brasil registrou dois novos recordes: na média móvel de infectados e na de mortes pela Covid-19. Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, a média de óbitos dos últimos sete dias é de 2.298, o mais alto de toda a pandemia pelo 24º dia seguido. Já a média de novos casos ficou em 75.163, um crescimento 10% acima daquele registrado há duas semanas.
Com o Ministério da Saúde abandonado pela desorganização do governo Jair Bolsonaro, o país ultrapassou o número de 295 mil mortos e 12 milhões de infectados pela Covid-19. Nas últimas 24h foram registrados 1.570 óbitos, totalizando 295.685 vidas perdidas. Desde 20h de domingo, 55.177 novos positivos foram notificados, elevando para 12.051.619 o total de pessoas que contraíram a doença.
Em seu pior momento na pandemia, o Brasil desperta a preocupação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em uma semana, o país teve o dobro de mortes em relação aos Estados Unidos e a maior marca de vítimas diárias pela Covid-19 de todo o mundo. Para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no entanto, ‘o Brasil vem dando exemplo’ e ‘estamos dando certo’.
Além disso, apenas a região Norte segue estável na média de mortes, com 9% de variação na comparação com 14 dias atrás. Todos as outras regiões apresentam aceleração, sendo: Nordeste (23%), Centro-Oeste (113%), Sudeste (51%) e Sul (54%). A situação tende a piorar nos próximos dias, já que o número de leitos disponíveis está diminuindo e a procura por internação, crescendo.
‘Kit Covid’ contribui para aumento de mortes
Apesar de Bolsonaro ter pedido nesta segunda que o foco dos ataques seja direcionado ao coronavírus e não a seu governo, sua postura como governante tem influenciado o aumento de mortes. Segundo diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), o chamado ‘Kit Covid’, defendido pelo presidente, pode prejudicar o tratamento no hospital e contribuir para a morte de pacientes.
“A preocupação maior é com os 15% que desenvolvem forma grave da doença e acabam vindo para a UTI. É nesses pacientes que os afeitos adversos dessas drogas ocorrem com mais frequência e esses efeitos podem, sim, ter impacto na sobrevida”, diz Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo, em entrevista a BBC News Brasil.
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Segundo especialistas, os remédios defendidos por Bolsonaro como ‘tratamento precoce’ também matam de maneira indireta, ao retardar a procura de atendimento pela população, absorver dinheiro público que poderia ir para a compra de medicamentos para intubação e ao dominar a mensagem de combate à pandemia, enquanto protocolos nacionais de atendimento sequer foram adotados.
“A falta de organização central e as informações desconexas sobre medicação sem eficácia contribuíram para a letalidade maior na nossa população. Não vou dizer que representa 1% ou 99% (das mortes), mas contribuiu”, afirma Carlos Carvalho, diretor da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo e BBC News Brasil