
Dilma Rousseff (ex-presidenta do Brasil), José Luis Rodríguez Zapatero (ex-primeiro-ministro da Espanha), Ernesto Samper (ex-presidente da Colômbia e atual Secretário-Geral da Unasul), Alvaro García Linera (ex-presidente da Bolívia), Pepe Mujica (ex-presidente do Uruguai) e Alberto Fernández (atual presidente da Argentina) serão alguns dos palestrantes de um curso internacional gratuito sobre os desafios da política e democracia na América Latina e no Caribe. O evento será aberto a militantes, ativistas, servidores, professores, estudantes, pesquisadores, sindicalistas, assessores de imprensa e todos os interessados em refletir sobre o tema.
Em tempos complexos para a região, e em meio à crise gerada pela pandemia, a iniciativa virtual “Estado, política e democracia na América Latina” busca responder a uma “necessidade de espaços de debate e formação”, nas palavras de Pablo Gentili, um de seus coordenadores. Serão formadas onze turmas distribuídas em três meses.
Marcada para o próximo dia 19 de outubro, a iniciativa é organizada pelo Grupo Puebla, Programa Latino-Americano de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Observatório Latino-Americano da New School University e da Universidade Metropolitana do Educação e Trabalho.
As aulas de 60 minutos serão coordenadas por referentes do meio acadêmico, político e social e em cada caso será indicada uma bibliografia recomendada pelos professores. Não há requisitos para se inscrever. Já se cadastraram 17 mil pessoas, por meio da página americalatina.global.
Ainda serão realizados três fóruns para cada um dos tema centrais: “comunicação política” (marketing, fake news, trolls, big data, campanhas eleitorais), “guerras jurídicas” (lei, processo seletivo, mídia) e “direitos em disputa” (privatização do setor público, desigualdade, lutas trabalhistas, feministas, antirracistas, indígenas, movimentos ambientalistas, pandemia e novas formas de resistência).
Outros nomes integram a lista
Além dos representantes já mencionados, a secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena; a prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum; a Ministra da Mulher, Gênero e Diversidade da Argentina, Elizabeth Gómez Alcorta; o juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Eugenio Zaffaroni; e a senadora e ex-ministra da Saúde do Paraguai, Esperanza Martínez.
Desafios e ameaças para a região
Desigualdades, transformações ambientais, questão urbana, economia mundial, direito à saúde, unidade dos povos, desafios da justiça social serão temas dos debates previstos ao longo do curso
Em entrevista ao site argentino Página 12, Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia e ex-secretário da Unasul, destacou os riscos que a “governabilidade” corre na região.
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“Temos que refletir sobre para onde vai a democracia: do ponto de vista eleitoral, o esforço de continuidade democrática que fazemos há 30 anos está ameaçado em países como a Bolívia ou o Equador”, afirma.
Somado a isso está um problema “mais profundo”, diz ele. A crise de “legitimidade”, na medida em que os projetos políticos não avançam “na correção das assimetrias sociais” e são substituídos pelos movimentos sociais. Ao mesmo tempo, crescem os poderes fáticos e instala-se a judicialização da política.
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Samper abordará também “as ameaças que pairam sobre a segurança na região”. Existe um “mapa de risco” configurado por “patologias globais” como “tráfico de drogas, tráfico de armas, tráfico de pessoas”. Também por causa da “insegurança, do aquecimento global e da ameaça geopolítica” do governo dos Estados Unidos. “Devem ser enfrentados não apenas com o aprofundamento da presença militar, mas com medidas de fortalecimento do Estado”.
Política de igualdade como elo
A intenção dos organizadores foi convocar algumas das personalidades que “mais têm contribuído para inspirar e desenhar políticas de igualdade” para contribuir com elementos de “análise, diagnóstico e compreensão” do cenário, resume Gentili.
Carol Proner, coordenadora da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, será a responsável pelo fórum sobre “guerras jurídicas”. “O uso da justiça para a desestabilização política é um fenômeno impensável em uma situação democrática normal, mas é recorrente no Brasil, aconteceu na Argentina, está acontecendo no Equador e na Bolívia, há características claras no Chile e no Peru. É regional e acontece por muitos fatores que ainda precisam ser estudados ”, define.
“Entre eles, o elitismo da classe judiciária contra as bases populares e a ingerência externa dos Estados Unidos. A situação implica algo antigo que se faz de maneira nova: a ingerência de colaborações transnacionais que não se fazem de forma garantista, mas seletivamente . ” Se essa “cultura autoritária que acompanha o modelo capitalista mundial continuar avançando, perder-se-á a capacidade de exercício democrático”, alerta Proner.
Com informações do El País Argentina