Nesta quarta-feira (30), Jair Bolsonaro (sem partido) partiu para o ataque contra o candidato à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, do partido Democrata. Pelas redes sociais, o presidente reagiu à defesa do norte-americano sobre a possibilidade de organizar o envio de US$ 20 bilhões (R$ 112 bilhões), junto a outros países, para conter o avanço do desmatamento na Amazônia brasileira. Bolsonaro citou a “cobiça” de outros países pela região e disse que não aceitará “subornos”.
Na noite da última terça, durante o caótico primeiro debate travado com Donald Trump, atual chefe de Estado dos Estados Unidos e candidato à reeleição, Biden afirmou que o Brasil está queimando a Amazônia. O Democrata também acusou Trump de não usar sua influência para ajudar a defender a natureza e prometeu que, caso seja eleito, tentará reunir outros países para agir nesse sentido, inclusive ameaçando o Brasil economicamente.
“Está tudo desmoronando, estamos falando de alguém que não tem relação com política externa. O Brasil, a floresta tropical do Brasil, está sendo demolida, está sendo destruída, mais carbono é absorvido naquela floresta tropical do que cada pedacinho de carbono que é emitido nos Estados Unidos. Em vez de fazer algo a respeito… eu estaria me reunindo e garantindo que os países do mundo venham com US$ 20 bilhões e digam ‘aqui estão US$ 20 bilhões pare, pare de derrubar a floresta e se não fizer isso, você terá consequências econômicas significativas’”, disse Joe Biden.
Trump, por sua vez, tentou ligar Biden à esquerda radical e disse que o plano ambiental do democrata era o “Green New Deal“, apoiado por políticos como Bernie Sanders. Biden, entretanto, respondeu que “Não apoio o Green New Deal. Apoio o plano Biden que apresentei”.
Resposta de Bolsonaro a Biden
Sinalizando a continuidade do apoio irrestrito à gestão de Trump, Jair Bolsonaro disse hoje que o Brasil “mudou” e o presidente da República, “diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. Nossa soberania é inegociável”.
“A cobiça de alguns países sobre a Amazônia é uma realidade. Contudo, a externação por alguém que disputa o comando de seu país sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua. Custo entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os Estados Unidos, depois de décadas de governos hostis, tão desastrosa e gratuita declaração”, escreveu o mandatário.
Bolsonaro também afirmou que o governo federal está atuando “sem precedentes” pela proteção da Amazônia e enxerga com bons olhos uma cooperação com os Estados Unidos, inclusive para projetos de investimento sustentável que possam gerar empregos para a população do bioma.
Ele ainda falou que tem conversado com Trump sobre o assunto. “Lamentável, Sr. Joe Biden, sob todos os aspectos, lamentável”, concluiu na nota, publicada em português e inglês.
Ameaças vistas apenas por Bolsonaro
Ao chegar ao Palácio do Planalto pela manhã, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB) negou ter visto ameaças na fala de Biden, mas apenas que este buscaria arrecadar US$ 20 bilhões para ajudar no combate a desmatamentos ilegais da Amazônia.
“Vamos aguardar. Achei que o debate foi de baixo nível”, afirmou.
Fala à ONU
Bolsonaro discursou nesta tarde em um evento da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a biodiversidade.
Ele voltou a falar que não tolerará mentiras e inverdades a respeito das queimadas no Brasil e disse que são prioridades do governo federal a proteção e a gestão soberana dos recursos naturais do país.
Mentiras na abertura na Assembleia-Geral
Em discurso com distorções e dados imprecisos na sessão de abertura da 75ª Assembleia-Geral da ONU em 22 de setembro, Bolsonaro já havia dito que o Brasil é vítima de “uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”.
Ao contrário do que afirmou o presidente no discurso, não há evidências de que os incêndios na Amazônia tenham acontecido por iniciativa de caboclos e indígenas. Ele também não levou em consideração as investigações sobre as queimadas no Pantanal ao atribuir o problema à alta temperatura e ao acúmulo de massa orgânica em decomposição. Ao contrário do que disse Bolsonaro, a Polícia Federal suspeita de atos criminosos.
Ao falar sobre o combate aos incêndios, Bolsonaro ignorou que, em seu governo, houve desmonte da política ambiental e de órgãos que tradicionalmente atuam na fiscalização de crimes ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Desinvestimento e omissão
Apesar do aumento no desmatamento no país, as sanções impostas pelo Ibama caíram 60% nos seis primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.
No discurso do último dia 22, o presidente exaltou ações do governo brasileiro para combater a pandemia da Covid-19 – o país contabiliza mais de 143 mil mortos pelo coronavírus – e elevou o valor do auxílio emergencial para US$ 1.000 a 65 milhões de brasileiros. Pela cotação atual, o presidente afirma que o governo destinou cerca de R$ 5.400 para cada brasileiro atendido pelo governo.
Na verdade, o auxílio deverá ser de, no máximo, R$ 4.200 à maioria dos beneficiários. Bolsonaro também mentiu ao afirmar que os hospitais não tiveram problemas para tratar os pacientes da Covid-19. Em abril e maio, alguns estados tiveram colapso no sistema de saúde, como Amazonas, Pernambuco, Ceará e Maranhão.
Mais cedo, no Twitter, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, questionou em tom irônico se o dinheiro citado por Biden seria por ano. “Só uma pergunta: a ajuda dos USD 20 Bi do Biden, é por ano?”
Com informações do G1 e UOL