
“Para que essa ansiedade, essa angústia?”. O questionamento feito nesta quarta-feira (16) pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deixou estupefatos parlamentares que vêm acompanhando o descaso do Governo Federal em estabelecer celeridade no processo de compra de uma vacina para o coronavírus. A fala ocorreu durante a solenidade de entrega do plano de imunização contra a Covid-19, que não continha sequer data de início.
“Senhores, vamos nos orgulhar da nossa capacidade. Ela não foi feita por mim, ela já está lá. Foram nossos antecessores que criaram o SUS [Sistema Único de Saúde] e fizeram o plano nacional de imunização, então vamos levantar a cabeça. Acreditem: o povo brasileiro tem capacidade ter o maior sistema de saúde do mundo. Para que essa ansiedade, essa angústia? Nós somos a referência na América Latina e tamo [sic] trabalhando”, garantiu.
A fala do ministro ocorreu após o Brasil registrar 183.735 mortes pela Covid-19. Foram 936 vítimas a mais que o pontuado no dia anterior. O país também confirmou mais 70.574 casos de infecção no período, totalizando 7.040.608. É o maior número compilado pela pasta de Pazuello desde o início da pandemia. O recorde anterior havia sido em 29 de julho, com 69.074 infecções confirmadas.
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Em entrevista à Rádio Band, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que o plano apresentado por seu sucessor é o mesmo da campanha da gripe.
Mortes não são apenas números
Para o líder do PSB, deputado federal Alessandro Molon (RJ), a fala do general à frente da Saúde pode ser considerada “desumana”. “Ministro, pergunte às pessoas que perderam entes queridos ou a quem está lutando contra a Covid neste exato momento. Já morreram 182.799 brasileiros. Só ontem, foram 964 vítimas. Desumano!”, definiu.
“Lambança”
Representante do PSOL na Casa, Ivan Valente (SP) afirmou que a apresentação se resumiu a mais uma trapalhada do governo. “A lambança de Pazuello com as datas de início da vacinação é uma coisa estarrecedora. Primeiro disse que ia começar em março, depois dezembro e agora mudou pra fevereiro. O governo está atrasado e não corre atrás! Chegamos a 7 milhões de casos hoje e não tem motivo pra ansiedade?, retrucou.
Companheira de partido, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) arriscou alguns palpites. “Hoje, no dia do lançamento do Plano Nacional de Vacinação, o ministro da saúde, Eduardo Pezadello, questionou “pra que essa ansiedade, essa angústia” sobre a vacina. Será pelos quase 183 mil mortos n Brasil, ou 6,7 milhões de casos ou ainda os quase 1,7 milhão de mortes no mundo?”, indagou.
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Já Paulo Pimenta (PT-RS) preferiu ser mais assertivo. “’Pra que essa ansiedade, essa angústia?” disse Pazuello ao lançar o ‘Plano’ de Imunização do desgoverno Bolsonaro. Parece notícia do Sensacionalista, mas não é. A ansiedade é por causa das mais de 182 mil mortes, ministro. O senhor e seu chefe estão na lata do lixo da história”, escreveu o deputado em seu perfil no Twitter.
“Aloprados”
“Uma ansiedade grande, angústia mesmo com a realidade do país sob comando desses aloprados e desastrados Bolsonaros e Pazuellos”, alfinetou o vice-líder do PCdoB, deputado Márcio Jerry (MA).
No Senado, Fabiano Contarato (Rede-ES) enumerou as razões da aflição da população. “Mais de 183 mil mortos, empresas fechadas, desemprego recorde e escalada de inflação, mas o ministro da Saúde pergunta o porquê de tanta ‘ansiedade’ por vacinação. Não vamos permitir essa sanha sádica a favor do vírus e contra a população!”, declarou o senador.
Líder da Oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE) preferiu ser sucinto. “Escárnio!”.
‘Falta de coragem’ para impeachment
Vice-líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE) voltou a ver indícios de crime na fala do ministro de Bolsonaro. “A mistura de omissão no processo de vacinação, negacionismo tosco e fim do auxílio emergencial tem nome: é crime de responsabilidade! Tenho repetido o alerta diante da falta de coragem de muitos. Basta ler o art 4º, III e IV da lei 1079. Serão milhões de brasileiros abandonados”, previu.
O chargista Carlos Latuff parece ter encontrado inspiração para a crítica nesta quarta. “Pra quê tanta ansiedade com a vacina né general Pazuello? São só 183 mil seres humanos até agora, mortos no #Brasil pela doença que teu patrão Jair Bolsonaro chamou de “gripezinha”…”, comentou, inserindo seu desenho.