Para o líder indígena Ailton Krenak, o modelo capitalista da sociedade “é o mundo da mercadoria”. O ambientalista foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira (19), Dia dos Povos Indígenas. Krenak considera muito difícil ensinar para as novas gerações sobre as relações do ser humano com a natureza em uma sociedade acostumada a um sistema no qual tudo pode ser fabricado e os processos não são tão importantes.
“É o mundo da mercadoria. Um mundo mágico que faz aparecer água na torneira, leite na caixinha e coisas na gôndola. É o pensamento mágico do mundo capitalista. Ele é tão maravilhoso quanto o pensamento de um xamã. No pensamento mágico de um escravo do capitalismo, ele acha que o capitalismo pode acabar com o mundo e criar outro.”
Ailton Krenak
Na avaliação de Krenak, a consequência do capitalismo e do sistema de produção em massa (chamado de sistema fordista) é a perda de prioridade por parte do governantes e investidores. Para o ambientalista, não faz sentido investir, por exemplo, em missões espaciais no meio de uma pandemia que mata milhares de pessoas.
O indígena usou como exemplo o lançamento do Amazonia 1, primeiro satélite de observação da Terra 100% nacional que foi lançado ao espaço pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em fevereiro. “O Brasil mesmo despachou um satélite. Está fazendo o que? Qual a onda do Brasil mandar satélite para o espaço? Ele deveria estar apoiando o Butantan para fazer vacina. Outras prioridades”, desabafou.
Krenak chama Salles de medíocre
“Esse sujeito é medíocre, ele é subserviente, está ali para executar um plano, um plano danoso para a soberania ambiental do Brasil”. Essa é a avaliação de Krenak sobre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A declaração foi feita durante entrevista ao Roda Viva desta segunda.
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Krenak classificou o ministro do Meio Ambiente como medíocre e o acusou de participar de uma “conspiração para transformar o Brasil em um país que liquidou sua biodiversidade”. O líder indígena ainda defendeu que Salles seja investigado por sua atuação à frente da pasta: “Ele deve estar a serviço de uma bandidagem muito poderosa”, acusou.
O ambientalista lembrou que o Brasil vem perdendo prestígio internacional em fóruns sobre meio ambiente e argumentou que parte do motivo para isso seria a atuação do ministro Salles, que, segundo ele, agiria em função de interesses de empresas.
“Na entrada do século 21 nós éramos presença obrigatória nas conferências do clima e o Brasil sempre foi considerado uma referência no ambientalismo no mundo. Se você bota um ministro do Meio Ambiente para detonar com tudo que esse país conseguiu conquistar no campo da gestão ambiental, transformar a gente numa sucata, é um grande serviço que esse sujeito está prestando.”
Ailton Krenak
‘Brasil foi assaltado pela monocultura’
Krenak também comentou sobre o impacto do agronegócio no Brasil, tanto em relação à vida de povos indígenas quanto à preservação do meio ambiente. Para ele, as monoculturas são uma maneira de assalto dos territórios.
“O Brasil foi apropriado de uma maneira abusada por uma classe que decidiu assaltar os territórios de uso comum e transformar em monocultura, em privilégio de controlar um certo mercado, que poderia ser qualquer outro produto, mas no caso é grãos, soja e boi.”
Ailton Krenak
Segundo ele, o problema não está limitado aos produtos que foram escolhidos para explorar as terras: “Poderia ter inventado que íamos plantar qualquer outra coisa, não ia achar isso menos pior do que o agro, que diz que é pop”.
Krenak afirmou ainda que a monocultura é uma forma violenta de uso da terra: “Essa piração da economia subordinada a um interesse comum, a uma monocultura de qualquer coisa, ela é de uma violência e revela uma falta de sentido da vida e dissociada disso que chama de planejamento, não tem planejamento, é tudo oportunismo”.
O papel da Funai
O ambientalista comentou ainda sobre o papel da Fundação Nacional do Índio (Funai). Ele defendeu a criação de um órgão subordinado ao Ministério das Relações Exteriores para que a questão dos povos indígenas seja abordada de maneira internacional.
“Se a gente tivesse desenvolvido uma capacidade crítica interna, quem sabe o Itamaraty criasse um programa com embaixadores falando várias línguas para tratar com os povos originários? Aí a gente estaria evoluindo.”
Ailton Krenak
Confira a entrevista completa:
Com informações do UOL e TV Cultura