
Criador do Zé Gotinha, o artista plástico Darlan Rosa, 74, classificou a versão do personagem com uma arma nas mãos divulgada pelos filhos de Jair Bolsonaro (sem partido) como uma “imagem terrível” e contrária aos propósitos idealizados por ele há 35 anos. “Fico arrepiado, é um desassossego”, disse ele à coluna Painel, da Folha de São Paulo, no fim da sexta-feira (12).
A imagem deturpada do personagem foi compartilhada pelo deputado Eduardo (PSL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) um dia após o ex-presidente Lula (PT) criticar a condução federal do combate à pandemia e afirmar que Bolsonaro havia preterido o símbolo da imunização no Brasil por acreditar que era algo da esquerda. A polêmica deflagrou uma onda de críticas ao presidente e aos demais membros do clã.
A revolta nas redes sociais contra a iniciativa dos filhos de Bolsonaro se deve à relação afetiva construída com Zé Gotinha por três gerações de vacinados, acredita Rosa. “Fiquei comovido. É uma gota da paz. E é dos brasileiros, todos podem usá-lo, desde que dentro do tema criado”.
“Criei um projeto simples de propósito, duas bolinhas, a bolinha de cima é a gota e a de baixo tem os braços e as pernas. Um desenho fácil de ser compartilhado e carismático, então mesmo quando ele é mal desenhado ele tem sua força. Prefiro ver a forma dele não correspondendo ao que eu fiz do que com apologia a armas”, diz Rosa, que na década de 1980 passou um ano viajando por estados ensinando artistas a desenharem o Zé Gotinha.
O artista plástico afirma que os direitos patrimoniais do Zé Gotinha são do Ministério da Saúde e os morais, dele. Mas que não acionará a Justiça contra a deturpação.
“É uma briga que não tem mais fim. Do outro lado o poder é muito maior”, diz. “É a mesma coisa de querer acabar com fake news. O primordial é esclarecer que o Zé Gotinha foi criado para educar. Só a informação e a ciência podem nos ajudar”.
Com informações da Folha de S. Paulo