Pesquisadores da Oxford University publicaram em 2013 um estudo detalhado do impacto da computação sobre o emprego nos Estados Unidos considerando os avanços recentes em aprendizado de máquinas (machine learning) e robôs móveis. Os pesquisadores concluíram que 47% dos atuais empregos estão sob alto risco de automação nos próximos anos e décadas e outros 19% sob risco médio. Eles consideram que somente um terço dos atuais trabalhadores não serão substituídos por máquinas inteligentes nas próximas uma ou duas décadas (FORD, Martin. Rise of the robots. New York: Basic Books, 2015).
Vivemos sem sombra de dúvidas uma era definida pela mudança fundamental entre trabalhadores e máquinas e que esta mudança coloca em xeque uma das hipóteses básicas sobre a tecnologia de que as máquinas são instrumentos que aumenta a produtividade dos trabalhadores. Ao invés disto, as máquinas estão se transformando em trabalhadores. Diante da perspectiva de substituição dos trabalhadores por robôs, as soluções que se apresentam para mitigar os efeitos do desemprego gerado pelo avanço tecnológico nos marcos atuais de desenvolvimento do capitalismo dizem respeito à adoção da Economia Criativa, da Economia Social e Solidária e do Programa de Transferência de Renda. Estas soluções proporcionariam, também, as condições para fazer frente á subutilização atual de 27,6 milhões de trabalhadores do Brasil.
Economia Criativa se refere a atividades com potencial socioeconômico que lidam com criatividade, conhecimento e informação. Para entendê-la, é preciso ter em mente que empresas deste segmento combinam a criação, produção e a comercialização de bens criativos de natureza cultural e de inovação como Moda, Arte, Mídia Digital, Publicidade, Jornalismo, Fotografia e Arquitetura. Em comum, empresas da área dependem do talento e da criatividade para efetivamente existirem. Elas estão distribuídas em 13 diferentes áreas: 1) arquitetura; 2) publicidade; 3) design; 4) artes e antiguidades; 5) artesanato; 6) moda; 7) cinema e vídeo; 8) televisão; 9) editoração e publicações; 10) artes cênicas; 11) rádio; 12) softwares de lazer; e, 13) música. É importante dizer que, por focar em criatividade, imaginação e inovação como sua principal característica, a economia criativa não se restringe apenas a produtos, serviços ou tecnologias. Ela engloba também processos, modelos de negócios, modelos de gestão, entre outros (DESCOLA. A economia criativa no mundo moderno.Disponível no website <https://descola.org/drops/a-economia-criativa-no-mundo-moderno/>, 2016).
A Economia Social e Solidária é um novo modelo de desenvolvimento econômico, social, político e ambiental que tem uma forma diferente de gerar trabalho e renda, em diversos setores, seja nos bancos comunitários, nas cooperativas de crédito, nas cooperativas da agricultura familiar, na questão do comércio justo, nos clubes de troca, etc. A Economia Social e Solidária constitui uma nova forma de organização do trabalho e das atividades econômicas em geral emergindo como uma importante alternativa para a inclusão de trabalhadores no mercado de trabalho, dando uma nova oportunidade aos mesmos, através da autogestão. Com base na Economia Social e Solidária, existe a possibilidade de recuperar empresas de massa falida, e dar continuidade às mesmas, com um novo modo de produção, em que a maximização do lucro deixa de ser o principal objetivo, dando lugar à maximização da quantidade e da qualidade do trabalho. A economia social e solidária corresponde a 10% do PIB e é responsável por 12,7% do emprego na França (LACROIX, Géraldine e SLITINE, Romain. L´économie sociale et solidaire. Paris: Presses Universitaires de France, 2016). No Brasil, a economia social e solidária representa 1% do PIB (REDE BRASIL ATUAL. Com autogestão, economia solidária já representa 1% do PIB no Brasil.Disponível no website <http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2015/08/economia-solidaria-ja-representa-1-do-pib-no-brasil-3696.html>, 2015).
Se aceitarmos a ideia de que é irrealista barrar a automação e que mais investimento em educação e treinamento seja improvável de resolver o problema do desemprego, Martin Ford considera que a solução mais eficaz consiste na adoção de uma política de garantia de renda para os trabalhadores. (FORD, Martin. Rise of the robots. New York: Basic Books, 2015). Esta ideia não é nova. Friedrich August von Hayek, economista e filósofo austríaco, posteriormente naturalizado britânico, considerado um dos maiores representantes da Escola Austríaca de pensamento econômico, foi o proponente desta ideia quando publicou entre 1973 e 1979 sua obra Law, Legislation and Liberty (Routledge, 1988).
Em poucas palavras, a política de garantia de renda para os trabalhadores diz respeito à Renda Básica Universal (RBU) que é um sistema semelhante ao da assistência social através do qual todos os cidadãos de um país, estando eles empregados ou não, receberiam, do governo, uma quantia fixa mensal. A diferença é que a RBU seria um substituto único para todos os subsídios de assistência social e esse salário seria provido de forma incondicional, sem nenhuma obrigação por parte do cidadão. O objetivo é permitir que todas as pessoas tenham melhor qualidade de vida e, assim, melhores oportunidades. É uma forma de combater a desigualdade de renda e assegurar que cada cidadão tenha dinheiro suficiente para viver acima da linha da pobreza. O programa neoliberal de transferência de renda dos governos Lula e Dilma Rousseff no Brasil, o Bolsa Família, é um exemplo da aplicação da política de garantia de renda de Hayek.
Lamentavelmente, o futuro governo Bolsonaro não apresenta nenhuma solução para fazer frente ao desemprego atual de 27,6 milhões de trabalhadores subutilizados do Brasil com a implementação de um programa de obras públicas de infraestrutura econômica (energia, transporte e comunicações) e infraestrutura social (educação, saúde, habitação e saneamento básico) com a participação do governo e do setor privado, além de não apresentar nenhuma iniciativa no sentido da adoção da Economia Criativa, da Economia Social e Solidária e do Programa de Transferência de Renda para fazer frente ao desemprego resultante do avanço tecnológico. Não há, também, nenhuma iniciativa de fazer com que o sistema de educação do Brasil seja capaz de dotar os trabalhadores brasileiros da capacitação requerida pelo mundo do trabalho que se caracterizará pela presença de máquinas inteligentes.
Tudo leva a crer que os robôs deverão ser utilizados largamente na atividade produtiva em geral que faz com que seja um imperativo preparar os seres humanos para lidar com estas máquinas inteligentes no mercado de trabalho. O grande desafio de educação no Brasil é representado, não apenas pela superação da deficiência do sistema atual, mas, sobretudo, para fazer frente às rápidas mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho graças ao avanço tecnológico, devido, sobretudo, ao impacto da inteligência artificial que é a inteligência similar à humana exibida por mecanismos ou software. Especialistas acreditam que a inteligência das máquinas se equiparará à de humanos até 2050, graças a uma nova era na sua capacidade de aprendizado. Isso significa dizer que estamos criando máquinas que podem ensinar a si mesmas e também a se comunicar simulando a fala humana.
Considerando que um dos objetivos de um sistema de educação de um país é o de planejar a preparação e a reciclagem das pessoas para o mercado de trabalho, compete aos planejadores dos sistemas de educação do Brasil identificar o papel dos seres humanos no mundo do trabalho em um futuro com máquinas inteligentes para realizar uma ampla revolução no ensino em todos os níveis contemplando a qualificação dos professores e a estruturação das unidades de ensino para prepararem seus alunos para um mundo do trabalho em que as pessoas terão que lidar com máquinas inteligentes. Os programas de ensino das unidades educacionais em todos os níveis devem ser profundamente reestruturados para atingirem esses objetivos.
Para realizar uma revolução no sistema de educação do Brasil, é preciso preparar o professor para cumprir um novo papel. O papel do professor é decisivo para que, através da educação, seja criado um novo tipo de homem qualificado para o mundo do trabalho e consciente e bem preparado para transformar o mundo em que vivemos em seu benefício. O papel do professor deve ser o de gestor de processos ricos de aprendizagens significativas e não o de um simples repassador de informações na sala de aula. O professor deve atuar como mediador do processo de aprendizagem dos alunos utilizando tecnologias simples, como as que estão no celular, uma câmera para ilustrar, um programa gratuito para juntar as imagens e contar com elas histórias interessantes e os alunos serem autores, protagonistas do seu processo de aprender.
Em seu programa de governo, Jair Bolsonaro não apresenta nenhuma estratégia que conduza a uma revolução no sistema de educação do Brasil. Sua ênfase consiste em eliminar a liberdade de cátedra ao pretender impedir que o professor possa debater sobre concepções políticas ou ideológicas em sala de aula. Outra ênfase de Bolsonaro é a de que é possível fazer mais com os atuais recursos, não havendo necessidade de aumentar o investimento na área da educação que é falso haja vista que o investimento por aluno no Brasil é o segundo mais baixo do mundo. Deveríamos nos inspirar nas políticas educacionais praticadas no Japão, Finlândia, Coreia do Sul e Suíça que são os países mais avançados em educação no mundo no sentido de reestruturar o sistema de educação do Brasil do ensino infantil ao ensino superior.