Perspectiva de mais desistências nas escolas e a perda de R$ 4 bilhões no orçamento assombram o futuro da educação no país
Com a prolongada interrupção das aulas, ainda sem muitas certezas sobre a retomada, e uma crise econômica sem precedentes, a educação brasileira teme fortes impactos. Entre eles, o corte de mais de R$ 4 bilhões no caixa educacional em 2021.
Atualmente, o país possui mais de 10 milhões de brasileiros analfabetos acima de 15 anos. Mais da metade (52%) da população acima de 25 anos não terminou o ensino médio. Os números, altos, já foram piores. Mas os avanços a passos lentos correm o risco de serem perdidos com a força da pandemia.
Leia também: Quase 40% das escolas brasileiras não têm estruturas básicas para lavar as mãos
Para reportagem do G1, o pesquisador Naercio Menezes Filho, do Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP) do Insper, afirmou temer desistências. “Os jovens ficarão praticamente um ano parados. Alguns vão sair da escola e não vão voltar porque perderam contato com colegas ou com as escolas”, afirma.
“Crianças pequenas podem ter problemas de desenvolvimento infantil, às vezes submetidas a um ambiente estressado, com pais possivelmente desempregados ou com renda menor.”, avalia o pesquisador.
Durante a pandemia, pouco ou quase nada se sabe sobre o acompanhamento dos estudantes em atividades remotas ou aulas a distância. O Ministério da Educação (MEC) já admitiu que não sabe dizer quantos estudantes da rede pública estão com aulas remotas.
“Nós temos altos índices de crianças e jovens fora da escola, que já sentirão agora a falta de investimentos. A médio prazo, a falta de verba vai dar continuidade a uma política de desvalorização do magistério – virar professor fica menos atrativo, menos pessoas qualificadas vão buscar a carreira”, diz Gregório Grisa, doutor em educação e professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).
“A ciência deveria ser vista como o futebol”
Segundo especialistas consultados pelo G1, o investimento em educação garantiria ao país maior diversidade na solução dos problemas, com desenvolvimento de pesquisa e tecnologia.
“A ciência deveria ser vista como o futebol. O Brasil é o país do futebol porque em qualquer lugar – bairros ricos e pobres, grandes centros urbanos ou área rural –, todo mundo joga bola. Por isso o Brasil produz muitos talentos, porque na quantidade, você extrai qualidade. O mesmo deve servir para a ciência. O Brasil tem escala, tem diversidade, tem riquezas naturais que poderiam ser exploradas”, afirmou Flavia Calé, presidente da Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG).
Silvio Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama e autor do livro “Racismo estrutural”, diz que “a educação é parte essencial de todo e qualquer projeto de um país soberano, que não se conforme em ficar rendido, ajoelhado e dependente”.
Queda no orçamento da Educação
Com a crise econômica, o governo Bolsonaro afirmou que irá cortar R$ 4,2 bilhões do Ministério da Educação em 2021. Além disso, a queda na arrecadação de impostos, que são repassados para a educação, poderá tirar R$ 31 bilhões das escolas municipais e R$ 28 bilhões das estaduais. Nas universidades, os contingenciamentos dos últimos anos já precarizam pesquisas e serviços básicos.
“O mais grave é que o Brasil hoje não consegue enxergar a importância estrutural da educação, principalmente a área econômica”, afirma a deputada federal Dorinha Seabra (DEM-TO).
Com informações do G1
1 comentário