Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia da Covid-19 em 11 de março do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), participou de pelo menos 84 aglomerações. Em média, o chefe do Executivo esteve em uma concentração de pessoas a cada 5,3 dias. Em apenas três ocasiões ele estava de máscara.
O levantamento foi baseado exclusivamente nos álbuns oficiais do perfil do Palácio do Planalto no Flickr – comunidade online de compartilhamento de fotografias. As informações são do jornal O Globo.
Em quase todas aglomerações contabilizadas durante 70 viagens e atos em Brasília, o presidente posou para fotos em meio a multidões e cumprimentou seus apoiadores com apertos de mão e abraços. Ele ainda segurou crianças no colo e se alimentou sem cuidados de higienização, em desacordo com os protocolos sanitários preconizados por especialistas de saúde.
O líder da Oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) criticou o mau exemplo de Bolsonaro.
Primeiro registro do desrespeito
O primeiro registro de aglomeração que consta no álbum oficial da Presidência foi em 11 de abril do ano passado, quando Bolsonaro vistoriou as obras de instalação do Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás, acompanhado do governador do estado, Ronaldo Caiado (DEM).
Após chegar de helicóptero à cidade goiana, Bolsonaro colocou a máscara durante a inspeção dos trabalhos para erguer o hospital de campanha. O respeito ao protocolo não se repetiu ao cumprimentar apoiadores que estavam no local.
Múltiplas aglomerações de Bolsonaro
Em suas viagens, Bolsonaro promoveu quatro aglomerações no mesmo dia em duas ocasiões. Em 18 de setembro de 2020, o presidente fez duas paradas em Mato Grosso. Em Sinop, o primeiro compromisso foi um ato realizado pelos representantes do Agronegócio.
Bolsonaro chegou sem máscara, cumprimentou os produtores rurais, tirou foto em frente a um outdoor que defendia o armamento da população e discursou em um palanque montado dentro de um galpão fechado.
Ele também visitou a Usina de Etanol INPASA. Mesmo desprotegido, segurou no colo crianças que também estavam sem o equipamento. Após deixar Sinop, o presidente desembarcou em Sorriso (MT), onde participou de dois compromissos com aglomerações: o ato de entrega de títulos de propriedade rural e o lançamento simbólico do plantio de soja.
“Vocês não pararam durante a pandemia. Vocês não entraram naquela conversinha mole de ‘fique em casa, que a economia a gente vê depois’. Isso é para os fracos. O vírus, eu sempre disse, era uma realidade, e tínhamos que enfrentá-lo. Nada de se acovardar perante aquilo que nós não podemos fugir dele”, disse Bolsonaro na ocasião.
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Bolsonaro segue sem máscara
Com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 em andamento e o Brasil alcançava 430.417 mortos pela pandemia, Bolsonaro viajou a Alagoas, no dia 13 de maio, e promoveu no mínimo quatro concentrações de pessoas. No estado do senador Renan Calheiros (MDB-AL), ele ainda criticou o relator da CPI que investiga supostas omissões e irregularidades nas ações do governo federal durante a pandemia.
Em Maceió, Bolsonaro entregou 500 unidades habitacionais no Residencial Oiticica I e inaugurou o complexo viário das BRs 104 e 316. O presidente não usou máscara em nenhum dos dois eventos. Em ambos, ele foi ao encontro de apoiadores que se amontoavam no local.
Após deixar a capital de Alagoas, a comitiva presidencial esteve em São José da Tapera, localizado a 240 km de Maceió, para inaugurar o Canal do Sertão Alagoano. Bolsonaro estava acompanhado do senador Fernando Collor (PROS-AL) e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O trio dispensou as máscaras durante o evento.
Maus exemplos e impunidade
Entre as mais recentes aglomerações registradas pelos fotógrafos do Planalto, em maio, está a motociata realizada no dia 23 no Rio de Janeiro. Além do séquito que acompanhava o presidente de moto, o passeio atraiu críticos do governo que protestaram contra a atual administração. O ato também contou com a presença do secretário de Estudos Estratégicos da Presidência da República e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Mesmo agindo contra o Regulamento Disciplinar do Exército e o Estatuto das Forças Armadas, que proíbe a participação de militares da ativa em manifestações políticas, o Comando do Exército avaliou que Pazuello não cometeu “transgressão disciplinar”.
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Máscara de enfeite
Das aglomerações em que Bolsonaro usou máscara, a primeira foi em 31 de julho de 2020, quando o presidente visitou a Escola Municipal Cívico-Militar de Ensino Fundamental São Pedro. Mas apesar de ter usado o equipamento de proteção durante a maior parte do tempo, Bolsonaro foi fotografado com o item abaixo do nariz.
No dia 5 de abril deste ano, Bolsonaro participou da inauguração de dois residenciais na região administrativa de São Sebastião, no Distrito Federal. O presidente estava acompanhado da ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), e do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). Bolsonaro tirou a máscara apenas na hora de discursar.
Naquele mesmo mês, em visita ao Centro Avançado de Atendimento Covid-19 em Chapecó (SC), Bolsonaro chegou ao local de máscara, mas se aproximou de apoiadores aglomerados que negligenciaram o equipamento de proteção. Bolsonaro foi fotografado com o item abaixo do nariz.
A reportagem entrou em contato com a Presidência da República, que não se pronunciou até esta publicação.
Com informações de O Globo