Durante discurso em um culto evangélico em Anápolis (GO) na quarta-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a insinuar que o coronavírus foi criado propositalmente em um laboratório chinês, no momento em que a falta de insumos e vacinas importadas da China ainda afeta a imunização no Brasil contra a covid-19. Além do ataque ao país asiático, o presidente repetiu uma série de informações falsas sobre a pandemia.
Bolsonaro se pronunciou ao fim de um evento da Church in Connection, acompanhado do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e do deputado federal Vitor Hugo (PSL-GO).
Em sua fala, Bolsonaro voltou a dizer que tem “provas materiais” de que a eleição que ele venceu foi fraudada. Insinuou que a China criou o vírus, como já o fez anteriormente, e disse que as medidas adotadas por governadores para conter os contágios têm o objetivo de derrubá-lo. Repetiu a tese de que as mortes por covid-19, que se aproximam de 500 mil, são “superdimensionadas”.
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O chefe do Executivo federal afirmou ainda que a eficácia das vacinas não têm comprovação científica — o que não tem respaldo na realidade. Defendeu o uso da hidroxicloroquina, cuja ineficácia no tratamento da covid-19, já está comprovada. Mas desta vez foi além: disse que, não fosse a suposta fraude nos dados e o uso desse e outros medicamentos já descartados pela ciência, o país teria o menor índice de mortes por covid-19 do mundo.
Bolsonaro acusou também governadores de desviar verbas federais destinadas para combater a doença e atacou a CPI da Covid do Senado, que investiga erros e omissões de seu governo no combate à pandemia.
Bolsonaro fala sobre fraude em eleição
Bolsonaro iniciou o discurso falando que jamais esperava ocupar o cargo. E narrou sua trajetória até chegar à eleição presidencial de 2018.
“Eu fui eleito no primeiro turno. Eu tenho provas materiais disso. Mas o sistema, a fraude que existiu, sim, me jogou para o segundo turno”, disse o presidente, que trava uma cruzada pelo voto impresso em 2022. “Outras coisas aconteceram, e eu só acabei ganhando porque tive muito voto. E algumas poucas pessoas que entendiam de como evitar ou inibir que houvesse a fraude naquele momento nos elegemos.”
Jair Bolsonaro
Depois, passou a exaltar o próprio governo até chegar à covid-19. Foi quando veio a insinuação contra a china.
“Tivemos um problema seríssimo, a tal da pandemia. Ainda, eu não tenho provas, mas esse vírus nasceu de um animal ou de um laboratório? Eu tenho na minha cabeça de onde ele veio e para quê. Mas ele está aí, está entre nós”.
Jair Bolsonaro
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Em maio, Bolsonaro disse que havia uma “guerra química” e insinuou que a China foi o país que mais cresceu durante a pandemia. Na sequência, disse que o vírus foi usado politicamente para afetar a economia e apeá-lo do poder.
“Passamos momentos difíceis. Começou-se a utilizar politicamente o vírus, ‘vamos fechar tudo, lockdown, toque de recolher, que a gente pela economia tira esse cara daí'”, disse.
Bolsonaro defende TCU e critica vacinas e CPI
Na sequência, o presidente voltou a fazer referência a um relatório comprovadamente falso feito por um servidor do Tribunal de Contas da União (TCU), que aponta um suposto superdimensionamento das mortes por covid-19. O servidor responsável pelo relatório foi afastado hoje do tribunal. Ele disse ter “trabalhado em cima” dos dados para formular “uma tabela” e concluir que as mortes estão superestimadas.
“Mais um indício, ou melhor, uma constatação da supernotificação dos casos de covid. Talvez eu seja o único chefe de Estado do mundo que fala isso. Será o único certo, capitão? Para acertar na mega-sena, alguns acertam sozinho, acontece. Se nós retirarmos as possíveis fraudes, teremos em 2020 o nosso país, o Brasil, como aquele com menor número de mortos por covid. E aí vem o importante: que milagre é esse? O tratamento precoce.”
Jair Bolsonaro
Ao defender a hidroxicloroquina, Bolsonaro pediu que quem havia tomado o remédio levantasse o braço. Diante da reação da plateia, com alguns gritos, ele disse: “Querem prova maior do que isso? Eu tomei hidroxicloroquina, outros tomaram ivermectina”.
“A vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está experimental. Nunca vi ninguém morrer por tomar hidroxicloroquina, em especial na região Amazônica.”
Jair Bolsonaro
Ao atacar a CPI da Pandemia, ele citou presidente, relator e, indiretamente, o vice-presidente da comissão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a quem chamou de “pessoa alegre”.
“Que CPI é essa de Renan Calheiros, de Omar Aziz, daquela pessoa alegre do Amapá? Não veio da minha cabeça o que eu falo sobre a doença. Veio de conversas com pessoas que realmente se preocupam e pesquisam sobre o assunto também.”
Jair Bolsonaro
Bolsonaro defendeu, “levando-se em conta os dados do TCU, levando-se em conta o número de mortos, números oficiais”, que se busque “um ponto de inflexão” e “uma maneira de diminuir drasticamente o número de mortos no Brasil pelo tratamento precoce”.
‘Somos contra o confronto ideológico’
Embaixador da China, Yang Wanming escreveu um artigo sobre “O papel dos partidos políticos na modernização da governança”, tema de um debate que foi alvo de ataques bolsonaristas nas redes sociais. O artigo do embaixador chin~es foi publicado na íntegra pela Revista Veja.
Além de defender a “remodelação da ordem internacional”, uma bandeira frequente do diplomata em seus artigos, Wanming não deixou de destacar a importância de uma relação sem atritos com os governos.
“Com respeito mútuo e na busca de convergências, procuramos aprender com partidos políticos de outros países e trocar ideias sobre a governança do Estado. Não tentamos exportar nosso sistema ou modelo e somos contra o confronto ideológico”.
Yang Wanming
O presidente e seu filho Eduardo Bolsonaro continuaram nesta semana a alimentar provocações contra os chineses, nosso principal parceiro comercial e principal aliado na questão das vacinas.
Com informações da Revista Veja e Valor Econômico