De forma resumida e simplificada, podemos definir o empreendedorismo social como um conceito de criação de negócios que não têm o objetivo de gerar lucros e enriquecer seus acionistas, mas sim o de produzir bens e serviços que beneficiem a população local, buscando promover a melhoria da condição de vida na sociedade, por meio da geração de capital social, inclusão e emancipação social.
Dito isso, é preciso contextualizar a situação atual do Brasil para que se compreenda a real necessidade deste modelo de negócios.
Aproximadamente 12 milhões de brasileiros viviam em extrema pobreza no país em 2020, ou seja, com menos de R$155 reais por mês, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outro dado é o de que mais de 50 milhões de pessoas viviam em situação de pobreza, com menos de R$450 por mês – e isso representa 1 em cada 4 brasileiros.
Esses números mostram a importância de uma revolução na forma de tratar a economia do país e o papel das empresas, governos e organizações para a redução das desigualdades e melhoria na qualidade de vida da população, principalmente dos mais pobres. Por isso, o empreendedorismo social tem se tornado um tema cada vez mais emergente nas discussões sobre políticas públicas, benefícios e impactos nas comunidades. E não só aqui no Brasil, mas por todo o mundo.
E para entender mais a respeito do assunto, o Socialismo Criativo realizou uma entrevista exclusiva com Meire Gonçalves dos Reis, mestranda em Inovação Tecnológica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que entre os dias 3 e 4 de novembro estará em Portugal apresentando sua pesquisa sobre “O papel de organizações intermediárias internacionais no fomento de inovações sociais: um estudo comparativo entre Brasil e Alemanha”.
- Como você classifica o empreendedorismo social?
“Existem algumas definições teóricas sobre o que é, mas eu gosto de dar o exemplo do que é uma empresa social, que é um negócio que nasce com o objetivo de resolver um problema social ao invés do modelo tradicional em que se visa o lucro financeiro. Nessa linha que eu sigo, todo o lucro da empresa deve ser reinvestido para gerar mais impacto na sociedade, ou seja, esse lucro não vai para o bolso dos acionistas, esses recursos voltam em forma de benefícios e melhorias para a comunidade e o meio ambiente.”
- O que te fez seguir esse caminho no estudo acadêmico?
“Eu comecei minha carreira no terceiro setor em 2008, em uma ONG socioambiental e sempre amei o tema. Então a minha ideia foi a de dedicar minha carreira para algo nesse propósito. Em 2015 eu estava na Alemanha e foi quando ouvi, pela primeira vez, o termo empreendedorismo social. Eu me apaixonei, pois uma empresa social é uma forma de não depender de doação de terceiros. Isso porque, muitas vezes, as ações de uma ONG ficam inviabilizadas por falta de recursos ou a verba é destinada para algo específico e não se tem autonomia de gestão sobre esse recurso. Isso acendeu uma luz na minha cabeça e eu fui estudar o tema em cursos no Brasil e nos Estados Unidos, e passei a atuar na área, inclusive, desenvolvi um projeto em conjunto com a Microsoft. Então passei a tocar minha carreira nessa área.”
- E como a carreira acadêmica te levou a ser convidada a palestrar sobre esse assunto na Europa?
“Em 2021 eu fui aprovada para um mestrado em inovação e empreendedorismo. Meu foco se manteve em como ajudar os empreendedores sociais a inovar por meio de organizações intermediárias – que é uma experiência que eu tenho de trabalhos com organizações intermediárias como, por exemplo, a World Wide Fund for Nature (WWF). Então foquei meu trabalho em compreender como essas organizações podem apoiar a promoção dessa inovação de uma forma mais efetiva. Existem poucos estudos nessa área e como eu tenho me aprofundado no tema, meu trabalho foi escolhido para ser apresentado no Congresso de Inovação Social da Faculdade do Porto (Portugal) em novembro deste ano. Na ocasião eu vou apresentar um material preliminar do que já produzi, uma vez que tenho até maio de 2023 para finalizar minha pesquisa. Meu estudo é uma comparação entre Brasil e Alemanha, para entender quais as boas práticas e políticas são feitas por lá para mostrar o que o Brasil pode aproveitar dessas experiências e, também, como podemos ensinar aos alemães na questão de desafios sociais.”
- Com base nos seus estudos e experiências, qual a importância do tema para a população brasileira?
“Os negócios sociais trabalham 100% com a população da base da pirâmide, ou seja, os mais pobres. E o governo não tem condições de resolver a quantidade de problemas sociais que nós temos, assim como as organizações da sociedade civil. Então eu vejo o empreendedorismo social como uma solução para resolver as demandas que temos, mas como uma ação conjunta entre todos os setores, unindo forças, para sanar os problemas enfrentados pelo Brasil. Agora é a hora de pensar no empreendedorismo social, pois atualmente, toda população é afetada, do rico ao pobre.”