A jornalista Juliana Dal Piva aponta em seu novo livro “O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro”, revelações de André Siqueira Valle, o ex-cunhado do presidente Jair Bolsonaro (PL) demitido do seu gabinete por não devolver a quantia exigida pelo então deputado.
André afirma ter ficado incomodado com caixas de dinheiro vivo que via dentro da mansão de Bolsonaro, na Barra da Tijuca, no período em que conviveu com o agora presidente e sua irmã Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan Bolsonaro, enquanto eram casados.
A coluna de Chico Alves no UOL antecipou trecho do livro:
André seguia a rotina combinada, mas não gostava de entregar tanto dinheiro ao cunhado. Passou a desabafar com amigos, em sigilo, que aquilo era errado. E observou com atenção algumas caixas de dinheiro vivo que o casal guardava em casa.
Certa ocasião, contou: “Pô, você não tem ideia como que é. Chega dinheiro? Você só vê o Jair destruindo pacotão de dinheiro. ‘Toma, toma, toma’. Um monte de caixa de dinheiro lá [na casa]. Você fica doidinho”.
Quem frequentava aquela casa não conseguia ignorar tanta grana. Marcelo Nogueira também viu muitas notas por lá. O casal mantinha um cofre no quarto, bem abastecido quando das campanhas eleitorais.
Rachadinhas e o clã Bolsonaro
Eleito vereador em 1989 após deixar o Exército em ato de insubordinação, Jair Bolsonaro (sem partido) construiu um império juntamente com três dos cinco filhos, Flávio, Carlos e Eduardo, na carreira política. A escalada espetacular da riqueza do clã do presidente da República levanta diversas suspeitas sobre a fortuna e o patrimônio que acumularam.
Após a quebra de sigilo de Carlos – o segundo da família, depois de Flávio, investigado em esquema de corrupção das rachadinhas -, o Ministério Público revelou, em setembro passado, que o clã movimentou pelo menos R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo nos últimos 24 anos. Corrigido pela inflação, o valor chega da R$ 2,95 milhões.
De acordo com a investigação, Carlos movimentou grandes quantias de dinheiro em espécie durante seus seis mandatos como vereador no Rio de Janeiro.
Em documentos, o MP cita pelo menos três situações que se enquadram na prática citada: em 2003, Carlos pagou R$ 150 mil em espécie na compra de um apartamento na Tijuca, na Zona Norte do Rio; em 2009, o vereador entregou R$ 15,5 mil, também em espécie, para cobrir um prejuízo que teve na bolsa de valores; e no último ano, Carlos declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter R$ 20 mil em espécie guardados em casa.