No último final de semana, o programa dominical Fantástico entrou na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, que é o cenário de uma tragédia humanitária. Os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero acompanharam de perto a distribuição de remédios e alimentos — e mostram o resgate de mulheres e crianças doentes. Confira o trecho abaixo:
O #Fantástico entrou na Terra Yanomami, em Roraima, cenário de uma tragédia humanitária. Os repórteres @SoniaBridi e Paulo Zero acompanharam de perto a distribuição de remédios e alimentos, e mostram o resgate de mulheres e crianças doentes. Acompanhe o programa deste domingo. pic.twitter.com/0GfuFnxv6L
— Fantástico (@showdavida) January 29, 2023
A reportagem do Fantástico entrou na Terra Yanomami com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Junior Hekurari, e o novo secretário da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Weibe Tapeba. A visita deles é para organizar o programa de socorro.
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“A gente vivia, a gente tinha a vida, a gente tinha trabalho, pescava. A gente não tem hoje. Não tem, porque o povo Yanomami está doente. Então, a situação é muito grave”, relata Junior Hekurari.
A situação mais grave está na parte Norte, onde estão dos pelotões especiais de fronteira do Exército — e a maior concentração de garimpo no Território Yanomami.
A partir de 2017, o garimpo avançou por dezenas de quilômetros na região do Homoxi. Os garimpeiros tomaram a pista da Sesai, expulsaram a equipe de saúde e usaram o posto como depósito de combustível.
Em 2022, policiais federais estiveram lá e destruíram máquinas do garimpo. Em represália, os garimpeiros botaram fogo no posto de saúde.
Casos subnotificados de malária em terra Yanomami
No ano passado, foram registrados 22 mil casos de malária — em uma população de 30 mil Yanomamis. No entanto, no Homoxi, onde o posto foi tomado e queimado pelo garimpo, houve apenas 7 casos notificados. Isso deixa claro que os números oficiais não refletem toda a realidade.
Nos anos 1990, uma grande operação do governo retirou os garimpeiros que haviam invadido a região. Em 1992, a Terra Yanomami foi demarcada. Depois disso, o garimpo quase desapareceu. Mas voltou em 2016 em escala brutal.
Os números mostram que o aumento dos casos de malária acompanha o do garimpo. Em dezembro de 2022, a área atingida pelo garimpo chegava a 5 mil hectares. Um aumento de mais de 300% em relação ao final de 2018.
“Durante esses quatro anos, piorou muito as situações graves. Chegou malária, desnutrição do povo Yanomami. Desde que que eu levei o primeiro Fantástico, né? E, desde então, o pessoal não recebeu nenhuma ajuda”, relembra o líder indígena Junior Hekurari, citando a reportagem produzida pelo Fantástico em novembro de 2021, quando o repórter Alexandre Hisayasu denunciou a crise humanitária que se agravava.
No último fim de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi a Boa Vista, capital do estado, acompanhado de ministros.
“A gente não pode entender como um país que tem as condições que tem o Brasil deixar os indígenas abandonados como eles estão aqui”, afirmou.
A crise sanitária matou 570 crianças Yanomami de 2019 a 2022, 29% a mais que nos quatro anos anteriores. Os dados do Ministério da Saúde foram compilados pela agência Sumaúma.
Os dados também mostram que, durante o governo Bolsonaro, as mortes de crianças Yanomami por desnutrição quase quadruplicaram.
Com dados do Ministério da Saúde, o Fantástico separou só as mortes por desnutrição de crianças de zero a 5 anos. Foram 152 nos últimos quatro anos, contra 33 no período anterior. Um aumento de 360%.
“Temos também lavagem de dinheiro, temos a atuação de organizações criminosas e, nesta questão específica da saúde, não há dúvida que nós temos indícios do crime de genocídio”, afirma o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB).
O ex-presidente Bolsonaro esteve em Roraima e visitou um garimpo ilegal. Ainda deputado, ele propôs acabar com a Terra Indígena Yanomami porque é “riquíssima em madeiras nobres e metais raros”.
No sábado (21), o ex-presidente disse, em uma rede social, que a fome Yanomami é uma farsa da esquerda — e que o governo dele executou 20 operações de saúde em terras indígenas.
Na quinta-feira (26), o Supremo Tribunal Federal (STF) disse, em nota, que identificou indícios de que o governo Bolsonaro teria fornecido informações falsas à Justiça sobre assistência e proteção à comunidade Yanomami. Confira a reportagem completa através deste link.