
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou e concedeu entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (10) para falar sobre a anulação de todas as condenações relacionadas com a Lava Jato, após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. O líder petista também lançou a pré-candidatura à Presidência nas Eleições de 2022.
Leia também: Volta de Lula ao jogo repercute nas redes e políticos comentam
Em um discurso que durou quase duas horas, proferido na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, (SP), ele se disse favorável a polarizações nas disputas eleitorais e se posicionou contra o discurso de que uma eventual candidatura sua beneficiaria Jair Bolsonaro (sem partido) no ano que vem.
“A polarização é importante, o que não pode é cometer o erro como o PSDB cometeu em 2014. Eles radicalizaram com ódio, nunca vi tanto ódio, e não querer aceitar o resultado. Deu no que deu, deu em Bolsonaro.”
No pronunciamento, Lula abordou a prisão; o processo na 13a Vara Federal em Curitiba, da Justiça Federal do Paraná; a anulação das condenações pelo ministro Fachin; a pandemia da Covid-19; e o governo de Bolsonaro, entre outros.
O ex-presidente também respondeu a perguntas de jornalistas sobre temas do cenário político, como críticas recebidas de Ciro Gomes (PDT) e elogios feitos pelo ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Anulação das condenações na Lava Jato
O ex-presidente se disse agradecido a Fachin e afirmou que a decisão do ministro reconheceu que nunca houve crime cometido contra ele ou envolvimento dele com a Petrobras.
Leia também: Improvável que Lula fique inelegível até 2022, apontam especialistas
No entanto, a decisão do ministro foi apenas processual: ele avaliou quem tinha competência para analisar o tipo de denúncia proposta. Fachin não analisou se Lula é culpado ou inocente.
“O processo vai continuar, tudo bem, eu já fui absolvido de todos os processos fora de Curitiba, mas nós vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito, porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar. Deus de barro não dura muito tempo.”
O ex-presidente chamou a força-tarefa da Lava Jato de “quadrilha” e disse que ela tinha uma obsessão por condená-lo porque queria criar um partido político.
“Hoje, eu tenho certeza que ele [Moro] deve estar sofrendo muito mais do que eu sofri. Eu tenho certeza que o Dallagnol deve estar sofrendo muito mais do que eu sofri, porque eles sabem que eles [Moro e Dallagnol] cometeram um erro, e eu sabia que eu não tinha cometido um erro.”
Lula comenta processo na Justiça Federal em Curitiba
Para o ex-presidente, a decisão do ministro Fachin de anular as condenações na Lava Jato por entender que a 13ª Vara de Curitiba não tinha competência para analisar os casos mostra que ele foi vítima de uma mentira jurídica.
Leia também: Suspeição de Moro é suspensa com pedido de vista e placar empatado
“Eu sei que fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história. Eu sei que a minha mulher, a Marisa, morreu por conta da pressão e o AVC se apressou. Eu fui proibido até de visitar meu irmão dentro de um caixão.”
Lula analisa a pandemia da Covid-19
Lula, que estava de máscara no evento, retirou a proteção para discursar. Ele disse que fez isso após consultar médico e por estar a mais de dois metros de outras pessoas. O ex-presidente prestou solidariedade às famílias que perderam pessoas para a Covid-19 e aos que estão desempregados. Também ressaltou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Quero prestar a minha solidariedade nesse entrevista às vítimas do coronavírus, aos familiares das vítimas do coronavírus, ao pessoal da área da saúde, de todos da saúde, privado e pública. Mas sobretudo para os heróis e heroínas do SUS que por tanto tempo foram descredenciados politicamente. Foram descredenciados no exercício de sua profissão porque só mostravam que as coisas ruins que aconteciam no SUS, e quando veio o coronavírus, se não fosse o SUS, a gente teria perdido muito mais gente do que perdeu, apesar do governo tirar tanto dinheiro do SUS e do governo ser um verdadeiro desgoverno no trato da saúde.”
O ex-presidente defendeu o auxílio emergencial – medida proposta pelo governo Bolsonaro e ampliada pelo Congresso para compensar a perda de renda durante a pandemia.
Em recado à população brasileira, o petista pediu para que sejam ignoradas as recomendações “imbecis” do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Importância da vacinação contra a Covid-19
Lula comentou que a questão da vacina contra a Covid-19 não está relacionada à dinheiro, mas ao apreço pela vida. Ele alfinetou Bolsonaro ao chamar atenção para o papel do presidente da República no cuidado do povo.
“Vocês sabem que a questão da vacina não é uma questão se tem dinheiro ou se não tem dinheiro. É uma questão se eu amo a vida ou amo a morte. É uma questão de saber qual é o papel de um presidente da República no cuidado do seu povo. Porque um presidente da República, ele não é eleito para falar bobagem, fake news, ele não é eleito para incentivar a compra de armas como se nós tivéssemos necessitando de armas. Quem está precisando de arma são as nossas Forças Armadas, quem está precisando de arma é a nossa polícia, que muitas vezes sai para rua para combater a violência com um 38 velho e todo enferrujado.”
Críticas ao armamentismo defendido por Bolsonaro
Lula também criticou a política armamentista de Bolsonaro. O petista afirmou que a população precisa de emprego e não de armas, e defendeu a vacinação e as medidas de isolamento social.
“Este povo não está precisando de armas. Esse povo está precisando de emprego.”
O ex-presidente chamou o presidente da República de ‘fanfarrão’, criticou a forma como ele está conduzindo o país e afirmou que o Brasil “não tem governo”. Bolsonaro tem adotado medidas para facilitar o acesso a armas, é um crítico das restrições de circulação e resistiu a comprar vacinas contra o coronavírus.
“Ciro Gomes precisa se reeducar”, recomenda Lula
Lula foi questionado sobre críticas feitas a ele pelo vice-presidente do PDT, Ciro Gomes, de que “é inocente no caso do [juiz Sérgio] Moro, mas não é honesto”. O petista sugeriu que o ex-governador do Ceará poderia perder o apoio da esquerda e a confiança da direita caso persista em comentários do tipo.
“Ciro Gomes acha que ele é o que? Ele primeiro tem que se reeducar. Se ele continuar com essas grosserias, sabe qual vai ser o fim dele? Sem apoio da esquerda, sem confiança da direita e com menos votos do que as eleições que participou até agora. Ele tem que aprender que humildade não faz mal a ninguém.”
Elogios de Rodrigo Maia a Lula
Ainda durante o pronunciamento do ex-presidente Lula, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), usou as redes para afirmar que “você não precisa gostar do Lula para entender a diferença dele para o Bolsonaro. Um tem visão de país; o outro só enxerga o próprio umbigo”.
O líder petista afirmou que está aberto a conversar com o deputado.
“Eu já conheci Rodrigo Maia fazendo duras críticas a mim quando eu era presidente. Eu não achei ruim quando ele fez as críticas, se ele fala bem de mim agora, obviamente fico lisonjeado, mas não posso ficar julgando.”
Com informações do G1 e da Revista Fórum