O entregador Elson Oliveira , de 39 anos, que foi barrado por uma cliente e chamado de macaco quando tentava entrar em um condomínio de Goiânia, disse que vai até o fim para que a autora da ofensa racial seja punida. “Gostaria de olhar no olho dessa mulher e tentar entender de onde vem tanta intolerância“, afirmou em entrevista nesta quarta (28).
Segundo o Estadão, os registros de um aplicativo de entrega de comida mostram frases ditas pela autora das mensagens, como esse preto não vai entrar no meu condomínio e um pedido para que fosse enviado um entregador branco.
O caso aconteceu no domingo (25) e teve grande repercussão. A mulher havia feito um pedido a uma hamburgueria por meio do aplicativo iFood e, quando a gerente da lanchonete, Ana Carolina Gomes, pediu que ela liberasse a entrada do entregador, enviando a foto dele, ela se recusou.
“Esse preto não vai entrar no meu condomínio. Mandar outro motoboy que seja branco, escreveu. Em seguida, reforçou a ofensa. Eu não vou permitir esse macaco”, disse.
A gerente reagiu dizendo que o pedido não seria entregue, pois não tolerava racismo, a intolerância. Adeus. Não uso restaurante judaico , respondeu a mulher.
Repercussão contra episódio de intolerância
Inconformado com o gesto da cliente, o dono da hamburgueria, Éder Leandro Rocha, levou o caso a público, criando grande repercussão. Elson só tomou conhecimento das ofensas após ser informado pela gerente. Ele foi obrigado a retornar com a entrega.
“Embora tenha ficado muito triste, eu até pensava em deixar para lá, mas ser chamado de macaco por causa da cor é muito forte, dói muito. Se não faço nada, o que minhas filhas vão dizer no futuro? “Quero ser a última pessoa a passar por isso. Estou muito triste, mas não vou deixar passar. Vou levar até o fim“.
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O motoboy, a gerente e o dono da hamburgueria já foram ouvidos pela Polícia Civil. A delegada Sabrina Leles, da delegacia especializada em crimes cibernéticos, que investiga o caso, usou os dados fornecidos pelo app para chegar à possível autora das mensagens. Segundo ela, há a hipótese de o agressor ter usado um perfil falso.
“Temos as informações técnicas da conexão, os dados do usuário que fez a encomenda e a conversa com a empresa fornecedora, da qual se depreende possível crime de racismo. No entanto, os dados são divergentes, podendo ter sido usado um perfil falso”, declarou. Segundo ela, a investigação tenta identificar quem produziu as mensagens ofensivas.
Entregador há 12 anos, separado, pai de três meninas, Elson disse que nunca viveu uma situação assim. Meu pai faleceu quando eu tinha 13 anos e, desde então, trabalhei muito para sustentar minha família. Acho que não mereço. Ninguém merece ser tratado dessa forma.
Protesto
Na noite de terça (27), cerca de 100 entregadores fizeram uma manifestação de protesto em frente a um dos portais de entrada do condomínio, gritando palavras de repúdio ao racismo e exigindo a punição da autora.
A Polícia Militar deslocou viaturas para acompanhar o ato, que foi pacífico. A coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Iêda Leal, participou e pediu que as pessoas reajam à violência racial e a intolerância, denunciando os agressores.
O iFood informou que a mulher foi identificada e retirada do cadastro de clientes da plataforma. O app entrou em contato com o entregador e ofereceu suporte psicológico, o que foi confirmado pelo rapaz.
A Sociedade Amigos do Aldeia do Vale (Saalva), responsável pela administração do condomínio, disse que a mulher que ofendeu o entregador não está nos quadros de moradores. Segundo a empresa, o nome da cliente fornecido pelo iFood não teria passado pelas suas portarias e que, possivelmente, se trata de um trote.
Disse ainda ter se colocado à disposição das autoridades para esclarecer o caso. “A Saalva repudia qualquer ato de discriminação e racismo que ocorra dentro e fora de seu perímetro”, declarou, em nota.
Com informações do Estadão