O presidente do Fórum dos Governadores, Wellington Dias (PT-PI), enviou à embaixada da China um pedido de audiência virtual com Yang Wanming, representante do país no Brasil, para tentar contornar o mal-estar gerado por novo ataque de Jair Bolsonaro (sem partido).
O chefe do Executivo sugeriu que a China teria se beneficiado economicamente da pandemia e afirmou que a Covid-19 pode ter sido criada em laboratório — ecoando tese que não encontra respaldo em investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as possíveis origens do vírus. Ele ainda insinuou que o país asiático poderia estar fazendo uso do vírus como estratégia de guerra bacteriológica.
Os governadores querem enfatizar ao embaixador chinês que discordam de Bolsonaro e que são agradecidos pelo fornecimento de insumos para produção de vacinas.
Fala de Bolsonaro impacta produção de vacinas
A direção do Instituto Butantan afirmou nesta quinta-feira (6) que as declarações de Bolsonaro afetam a liberação de insumos pelas autoridades daquele país.
“Pode faltar [insumos]? Pode faltar. E aí nós temos que debitar isso principalmente ao nosso governo federal que tem remado contra. Essa é a grande conclusão”, disse Dimas Covas, diretor do Butantan.
Ela acrescentou que até dia 14 há compromisso de entrega de vacina, de um lote que totaliza 5 milhões de doses, e que depois disso não haverá mais matéria-prima para processar.
Senadores reagem a ataques de Bolsonaro contra a China
A declaração do presidente que insinuou ataques à China repercutiu na audiência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal com o chanceler Carlos França, nesta quinta-feira (6). A presidente do colegiado, Kátia Abreu (PP-TO), considerou a fala de Bolsonaro uma “acusação muito grave”.
A principal preocupação da senadora é que as relações comerciais com a China possam ser prejudicadas. Além disso, o Brasil depende dos insumos provenientes da China para a fabricação de vacinas contra a Covid-19.
Kátia Abreu revelou que foi procurada por centenas de grandes exportadores brasileiros para a China, por meio de mensagens e ligações telefônicas, preocupados com as consequências da fala de Bolsonaro. A senadora acrescentou que, se em 2020 o Brasil teve um superavit na balança comercial, que superou US$ 50 bilhões, foi graças à China.
“Sem as compras chinesas, o superavit teria sido de US$ 18 bilhões. A China é nosso maior parceiro comercial desde 2009, e o Brasil precisa entender que o crescimento deles nos favorece. Se a China crescer 5% por ano nos próximos 10 anos, o aumento de nossas exportações será ainda mais exponencial.”
Kátia Abreu
Na resposta à senadora, o ministro das Relações Exteriores concordou com o diagnóstico de que o crescimento chinês favorece o Brasil. Carlos França disse ter conversado na quarta-feira com Bolsonaro, que lhe garantiu que “nossas relações com a China devem continuar sendo as melhores”, e que não teria se referido especificamente ao país quando mencionou a possível “guerra biológica”.
O ministro declarou que o Brasil não tem “nenhum problema político com a China” e disse ter conversado nesta quinta com o embaixador do Brasil em Pequim, Paulo Estivallet.
“O diplomata Estivallet me deu excelentes notícias: 80% dos insumos farmacêuticos (IFAs) usados nas vacinas contra a covid-19, fabricados pela China, são enviados ao Brasil. Em contato que teve com autoridades chinesas hoje, Estivallet me comunicou que eles continuarão priorizando nosso país.”
Carlos França
Com informações da Folha de S.Paulo e Agência Senado