O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dedicou tempo, nesta quarta (5), para fazer novos ataques verbais contra a China. Durante evento do Ministério das Comunicações sobre a rede 5G no Brasil ele insinuou uma guerra “química, bacteriológica e radiológica” proposital para fortalecer a economia chinesa.
“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu porque um ser humano ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês.”
Jair Bolsonaro
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Fala de Bolsonaro contradiz a ciência
A declaração de Bolsonaro, no entanto, vai na contramão de um estudo apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Divulgado em março este estudo afirma ser “extremamente improvável” que o vírus tenha atingido os humanos por um incidente em laboratório.
Declarações deste tipo têm sido comuns na atual gestão. Ao mesmo tempo que tentam tirar os olhos da sociedade da omissão do governo brasileiro no combate à pandemia, contribuem com o enfraquecimento das relações com a China.
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No mês passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, por exemplo, emitiu falas semelhantes. Na ocasião, o embaixador chinês no Brasil usou as redes socais para lembrar que os insumos da principal vacina contra a Covid-19 usada no Brasil, a CoronaVac, eram importados dos chineses.
Quem é contra tratamento precoce é “canalha”
Na contramão da ciência, o presidente também voltou a defender em público o tratamento precoce contra a Covid-19 com medicamentos sem comprovação científica de eficácia. Em tom agressivo, chamou de “canalha” aqueles que recusam o uso de remédios como a hidroxicloroquina.
“Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa. Esse é um canalha. O que eu tomei (para tratar a Covid), todo mundo sabe. Ouso dizer que milhões de pessoas fizeram esse tratamento. Por que é contra?”, disse Bolsonaro durante discurso no Palácio do Planalto.
Enquanto isso, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich prestava depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado. A base governista, que não é composta por nenhum parlamentar formado em medicina, foi incisiva em defender o uso desse medicamento e de outros como a ivermectina para curar Covid. Os parlamentares de situação chegaram a citar estudos não validados e desatualizados sobre o uso de cloroquina no tratamento do coronavírus.
No ano passado, a gestão Bolsonaro cogitou alterar a bula da cloroquina por um decreto presidencial, algo legalmente impossível. O assunto foi abordado durante o depoimento de Teich. Esta mesma questão mereceu espaço no depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, ocorrido no dia anterior.
Compra de Cloroquina é investigada por superfaturamento
O Ministério Público, no ano passado, apresentou uma denúncia ao Tribunal de Conta da União (TCU) para que a compra de matéria-prima para comprimidos de Hidroxicloroquina pelo Exército Brasileiro fosse investigada. A suspeita é de superfaturamento, uma vez que as compras teriam custado seis vezes mais que o valor de mercado.
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Ate o segundo semestre de 2020, o Brasil já tinha produzido 84 vezes mais comprimidos de cloroquina do que no mesmo período dos anos de 2017 a 2019
Com informações do G1 e da Revista Fórum