Uma reportagem publicada pelo portal Uol, que fez cálculos sobre o custo do governo brasileiro com a ida de uma comitiva a Israel, no início de março, calculou que foram gastos pelo menos R$ 440 mil com essa missão. O grupo, formado por 10 pessoas, ficou naquele país entre os dias 6 e 10 de março e se tivesse viajado por meio de aviões comerciais, teria gasto menos da metade desse valor.
O objetivo da viagem foi buscar acordos de cooperação para um possível remédio contra o coronavírus que está em estudo e uma vacina em fase 2 de teste, mas não foram obtidos resultados concretos de nada desses esforços, ao menos até agora.
A reportagem do Uol ouviu consultores, advogados e servidores para obter uma estimativa. E explicou que uma parte das despesas ainda é desconhecida. Primeiro, porque a viagem foi feita com um avião da Força Aérea Brasileira, que mantém valores em sigilo. Depois porque alguns órgãos revelaram só parcialmente os gastos. Por fim, porque outros órgãos não prestaram esclarecimentos sobre a viagem, no caso da Câmara dos Deputados e dos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia.
Conforme a apuração feita pelo portal, a maior parte dos custos se deveu ao jato da Aeronáutica utilizado.
Os valores foram calculados pelo engenheiro aeroespacial e consultor aeronáutico Marco Gabaldo e por uma advogada especialista em direito administrativo.
Fizeram parte da comitiva três diplomatas, um assessor internacional, dois deputados — Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Hélio Lopes (PSL-RJ), além de dois técnicos em saúde, um segurança e um secretário de Comunicação.
Custo podia ter sido menor
A aeronave, que transportou todos eles, tinha capacidade para levar 40 pessoas – 30 a mais, o que elevou o custo por pessoa. Caso tivesse sido feita por meio de companhias aéreas, a viagem teria tido um custo bem menor, de R$ 146 mil.
Ao falar sobre o caso, o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, disse que “nada substitui esse contato direto feito pela comitiva, que realmente abre as portas”. “Muitos desses interlocutores não estariam dispostos a compartilhar certos dados por videoconferência ou por telefone, porque se tratam de novas linhas de pesquisa”, ressaltou.
‘Para ouvir o mesmo’
O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) criticou o alto custo nas redes sociais. Por meio da sua conta no Twitter, Molon disse: “R$ 400 mil para o governo ouvir em Israel o mesmo que especialistas do mundo todo repercutem há um ano”.
Na opinião do parlamentar socialista é preciso continuar o que ele chamou de “luta científica para encontrar curas”. Mas Molon frisou que não se deve esqueça das palavras: “prevenção, prevenção, prevenção. Vacina, vacina, vacina”.
A viagem, ainda por cima, foi criticada por parlamentares por ter sido repleta de gafes diplomáticas, como a chegada do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sem máscaras, para um encontro com o ministro de Relações Exteriores de Israel.