
Um total de 6,86 milhões de testes para o diagnóstico de Covid-19 comprados pelo Ministério da Saúde perde a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 2021, conta uma reportagem do Estadão. Os exames estão estocados em armazém do governo federal em Guarulhos e, até hoje, não foram distribuídos para a rede pública. Esse volume é maior que o já aplicado pelo governo.
O Sistema Único de Saúde (SUS) aplicou ao todo 5 milhões de testes RP-PCR, o tipo de exame próximo a vencer. Caso o pior ocorra, o Brasil pode acabar jogando fora mais testes do que aplicou. Além disso, será desperdiçado um total de R$ 290 milhões.
Esse é um dos exames mais eficazes para diagnosticar a Covid-19. A coleta é feita por meio de um cotonete aplicado na região nasal e faríngea (a região da garganta logo atrás do nariz e da boca) do paciente. Na rede privada, o exame custa de R$ 290 a R$ 400. As evidências de falhas de planejamento e logística ocorrem num período de aumento dos casos no País.
A responsabilidade sobre o prejuízo virou jogo de empurra entre o Ministério da Saúde , de um lado, e Estados e municípios, de outro. Enquanto a pasta alega que só entrega os testes quando há pedidos dos Estados, secretários estaduais e municipais de Saúde dizem que não usaram todos os testes, pois receberam kits incompletos para o diagnóstico.
Falta de planejamento
O ministério lançou duas vezes o programa Diagnosticar para Cuidar, que previa 24,2 milhões de exames no SUS até dezembro. Só 20% foram feitos. A pasta prometeu também insumos para entregar kits completos, mas os negócios foram travados por suspeita de irregularidades, hoje sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU).
“O contrato que permitia o fornecimento de insumos e equipamentos necessários para automatizar e agilizar a primeira fase do processamento das amostras foi cancelado pelo Ministério da Saúde”, destacou o Conass.
O assessor técnico do Conasems, Alessandro Chagas, diz que a dificuldade para processar amostras, que pode exigir envio do material a outro Estado, desestimula a fazer testes. “O que causa estranheza é esse estoque parado enquanto temos dificuldade de levar a coleta para a atenção básica”, diz.
Além de escassos, os testes RT-PCR foram distribuídos pelo Ministério da Saúde sob critérios pouco objetivos. O Paraná foi o terceiro Estado que mais recebeu os produtos. A Bahia está em sexto lugar, mesmo com população superior e mais casos e mortes pela Covid-19.
O Brasil ainda enviou 130 mil exames ao Paraguai e ao Peru, número praticamente igual ao entregue ao Amazonas, que viveu uma tragédia no começo da pandemia. Outros oito Estados receberam menos testes do ministério do que os países vizinhos.
A importância dos testes
Gestores da Saúde dizem que o diagnóstico da doença pode ser feito pelo próprio médico, o que tornaria o RT-PCR menos importante. Especialistas, no entanto, discordam do posicionamento.
“A vantagem da Europa, agora, é que aumentou tanto a capacidade de testagem que é possível detectar casos leves”, diz o vice-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa.
Para ele, um bom indicador para verificar se o País testa pouco é o número de positivos. Se for acima de 5%, é sinal de que os testes são insuficientes. No Brasil, cerca de 30% dos exames RT-PCR no SUS deram positivo.
Com informações do Estadão