A Justiça do Rio de Janeiro bloqueou R$ 640 mil de Paulo José Arronenzi, o assassino que matou a facadas sua ex-mulher, a juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi. O entendimento para o bloqueio foi de que, por ter cidadania italiana, ele poderia, mesmo preso, transferir dinheiro para o país europeu por terceiros. O valor ficará disponível para futura indenização por danos morais e para garantir o sustento das três filhas do casal.
O pedido de arresto foi feito pelas meninas, todas menores de idade, em nome da avó. O processo está sob segredo de Justiça.
Filmado por uma testemunha, o crime ocorreu na véspera do Natal, na frente das filhas do casal – duas gêmeas de 7 anos e uma de 9 – na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense.
O caso gerou comoção de órgãos do Judiciário. O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), ministro Luiz Fux, divulgou nota em que os órgãos “se comprometem com o desenvolvimento de ações que identifiquem a melhor forma de erradicar” o feminicídio.
Há três meses, a juíza chegou a denunciar o ex-marido por lesão corporal e ameaças. O próprio TJ providenciou escolta para Viviane, mas ela abriu mão da proteção.
Afeto
Em sua conta no Instagram, a antropóloga e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Debora Diniz comentou o caso.
“Família é afeto e instituição disputada pelos brutos. Só alguns poderiam viver em família, dizem eles. Chegam até a falar em “família natural”. Quem seria a família natural para os brutos? Um pacote de presunções. De um lado, aquela em que os corpos se reproduzem, em que pênis e vagina servem para filiação. De outro, a que dominação masculina se mantém como regra. Fico só desse par. Qual a configuração de família que mais mata a mãe? A presumida pelo bruto como natural“.
Para a antropóloga, eventos trágicos como um feminicídio com filhas como testemunha da matança da mãe devem ser “como uma ferida ardida para nos mostrar as perversões do patriarcado. Há mazelas que não nos abandonam no machismo. O patriarca que, falsamente, protege as mulheres vem em combo: ele é um dominador“.
“Se você é um homem que estranha o patriarcado e o machismo em você, que bom. Eu faço o mesmo. O processo é longo e cruel: há recaídas. Uma dica—não perca seu tempo de aprendizado para nos ensinar aqui dizendo “nem todos os homens são assim”. Escreva sobre o patriarcado em seu grupo da firma, de futebol do domingo ou da escola de seus filhos. Sua palavra transformadora não será mágica aqui, mas no mundo que só sua masculinidade alcança“.
Tolerância zero contra assassino de mulheres
A subsecretária de Políticas para Mulheres do Rio de Janeiro, Cristiana Onorato Miguel Bento, defendeu “tolerância zero” contra casos de feminicídio como o da juíza. Segundo Cristiana, a pasta estadual iniciará projetos de combate à violência contra mulheres no próximo ano.
A subsecretária afirmou que se inspira no movimento Ni Una Menos, que cobrou ações na Argentina e no Uruguai em 2015. Cristiana disse que prestará auxílio às filhas da juíza. “É começar a dar voz para as mulheres e dizer que não admitimos nenhuma morte por ser mulher.”