
De acordo com uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, as candidaturas trans são geralmente feitas com valores módicos. Uma vez no cargo, além da rotina de ameaças, elas convivem com isolamento político, falta de apoio dos partidos e bloqueio sistemático aos projetos, principalmente os que versem sobre o tema LGBT. Algumas ainda acabam sendo alvo de ameaças de cassação, denúncias à comissão de ética e até tentativa de vetar sua posse.
Erica Malunguinho (PSOL) foi eleita deputada estadual em São Paulo em 2018, sendo a primeira parlamentar trans em uma Assembleia Legislativa do país. Logo nos primeiros meses de mandato, em 2019, ouviu o deputado Douglas Garcia, hoje no Republicanos, dizer que tiraria no tapa uma transexual que usasse o mesmo banheiro feminino que sua mãe ou irmã.
“A minha presença na Alesp é pedagógica, é necessário naturalizar nossa presença em espaços de sociabilidade. Mas não vou dar nenhum passo atrás”, diz Erica.
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Além da rotina marcada pelo preconceito, ela se deparou com uma oposição sistemática, principalmente de evangélicos, em relação aos projetos que visem a inclusão do público LGBT. No entanto, ela sente que, independentemente do tema, o fato de ser quem é também afeta o julgamento de seus pares.
“Pode ter certeza que meus projetos são muito lidos, são os únicos que efetivamente que as pessoas tentam se debruçar. Pelo fato de sair de mim muitos vêm com suspeições, existe uma discriminação e perseguição.”
Nesse contexto, qualquer menção à questão trans ou LGBT pode ser a senha para extinguir mesmo projetos simples, como datas comemorativas.
PSB fortalece candidatas trans
A vereadora Titia Chiba (PSB), de Pompéu (MG), afirma que o preconceito acaba prejudicando não só a população trans. Na cidade dela, por exemplo, um conselho de direitos humanos foi rejeitado porque contemplaria, também, o público LGBT.
Para a secretária nacional do LGBTsocialista, Tathiane Araújo, , é preciso fortalecer as candidaturas LGBTs+ para que não só estejam presentes nas eleições, mas tenham chances reais de ocupar cadeiras nos legislativos e executivos do país.
“Em um ano eleitoral como o nosso é importante observar o crescimento das candidaturas LGBTs+, mas é mais importante buscar o fortalecimento dessas candidaturas, dando subsídios e formação para que elas cheguem em outubro de forma qualificada e se apresentem como atrativas para a sociedade como um todo”, avalia.
Para o presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, que se filiou neste ano ao PSB, é preciso estimular e apoiar pessoas LGBTI+ a se candidatarem em 2022.
“Queremos conhecer a demanda de possíveis candidaturas para apresentar dados aos partidos políticos e buscar suporte junto a entidades e movimentos que atuam no fortalecimento da democracia brasileira e na defesa e proteção aos direitos humanos. No momento em que vivemos, precisamos ampliar a representatividade de nossa comunidade na política”, afirma o socialista.
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A pré-candidata a deputada federal pelo PSB em São Paulo, Ariadna Arantes acredita que a presença de uma mulher trans no plenário paulista seria de grande impacto para a criação e debate das pautas LGBTQIA+, em especial para pessoas trans.
“Precisamos dessa representatividade dentro do plenário. E ser a primeira mulher trans deputada federal, caso eleita, seria de impacto nacional. E isso seria muito importante para o desenvolvimento do nosso país e pela igualdade”, reforça
Ariadna também alerta para a necessidade do resgate destas pautas em frente à forte falta de comprometimento do governo de Jair Bolsonaro em abordar medidas importantes para as minorias.
“Nós existimos. E estar aqui mostra a importância do desenvolvimento do país e do partido ao escutar a voz de toda essa população minoritária”.
A pré-candidata do PSB para uma das oito cadeiras da Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal, Paula Benett, disse que vai concorrer às eleições para ocupar um espaço que há muito tempo foi negado.
“Chegou a hora de falarmos por nós mesmas, de termos nossa própria voz. Estou preparada, tenho a vivência aliada à experiência e a coragem para avançar”, pontuou Paula Benett.
Com informações da Folha de S. Paulo